Igreja: Patriarca de Lisboa apela a «converter» sociedade e suas «múltiplas e chocantes escravaturas»

«Linha católica só pode ser a da frente»

Lisboa, 02 jan 2015 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa sublinhou no início do ano o empenho da Igreja Católica em combater todos e quaisquer atentados à dignidade humana, que têm como base um problema “pedagógico, de educação pessoal e da sociedade”.

Para D. Manuel Clemente, as “múltiplas e chocantes escravaturas” que subsistem no mundo atual, e que foram denunciadas pelo Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, pedem mais do que a indignação ou o lamento.

Pedem ação no sentido de “dar a volta à realidade existente, ou convertê-la, como cristãmente se diz”, exortou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na missa da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, esta quinta-feira.

No âmbito do 48.º Dia Mundial da Paz, que é sempre assinalado a 1 de janeiro, o Papa criticou o “fenómeno abominável” da escravatura e do tráfico humano, que persiste na sociedade atual.

Intitulado “Já não escravos, mas irmãos”, o texto de Francisco recorda a situação de trabalhadores e trabalhadoras, incluindo menores, “escravizados nos mais diversos setores”; os imigrantes remetidos para a clandestinidade ou para “condições indignas” de vida e trabalho.

A mensagem alude ainda às redes de prostituição, aos casamentos forçados, ao tráfico e comercialização de órgãos, às crianças-soldados, aos pedintes, ao recrutamento para produção ou venda de drogas e a formas disfarçadas de adoção internacional.

“Certamente que nos indignamos, face a tanta sobrevivência de escravaturas várias” e ao mesmo tempo “repetidas notícias abrem-nos os olhos e tocam-nos as consciências”, realçou o patriarca lisboeta, durante a eucaristia na igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica.

No entanto, prosseguiu, “no que toca a nós, seguidores de Cristo e ouvintes atentos do Papa Francisco, redobra-se o compromisso para tudo fazer rumo à libertação integral de cada homem e mulher”.

“Neste bom combate”, frisou D. Manuel Clemente, “a linha católica só pode ser a da frente, como parte ativa da solução” e na busca de alternativas que permitam “reforçar todas as frentes dos direitos humanos, para o seu cabal respeito, longe ou perto”.

O responsável católico destacou o trabalho que “pessoas e grupos, instituições sociais e religiosas” têm feito no sentido de erradicarem “servidões impostas” e de contribuírem para a sua “real superação”.

Situações que tocam também aqueles a quem é negado “o direito a nascer, a ser devidamente educado, a constituir família com tudo o que esta requer”, a serem acompanhados de forma cabal “na doença ou na velhice”.

Antes de mais, apontou o patriarca de Lisboa, “o problema tem de ser resolvido no íntimo de cada um”, considerando urgente que na sociedade todos “cresçam como pessoas, ou seja, como seres em relação que só reciprocamente se realizam”.

Está também em causa uma mudança “cultural”, pois é preciso verificar que “valores” é que são mais importantes, “para todos e para cada um”, observou D. Manuel Clemente. 

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