Portugal: «Estado demite-se das responsabilidades com bem comum» alerta Grupo Economia e Sociedade

Reflexão identifica situações de escravatura na sociedade portuguesa

Lisboa, 02 jan 2015 (Ecclesia) – O Grupo Economia e Sociedade partilhou uma reflexão a partir da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, assinalado esta quinta-feira, e apela à denúncia “muito ativa” das novas formas de escravatura que existem em Portugal.

“Hoje, as palavras do Papa têm um profundo eco no nosso país, onde se assiste à passividade de um Estado que se demite das suas responsabilidades com o bem comum, na senda, aliás, de políticas europeias contrárias aos princípios fundadores da União Europeia”, analisa o grupo no documento enviado à Agência ECCLESIA.

Os especialistas económicos consideram que a coesão social está, “de novo, ameaçada” e situações que se consideravam “irreversíveis”, para além de “valores de solidariedade” que os portugueses tinham como “património inalienável”, são colocadas em risco.

Com o título “Só com a Paz se pode aspirar ao progresso, à harmonia e à verdadeira felicidade entre os homens”, a reflexão parte da mensagem do Papa Francisco – Não mais escravos mas irmãos – para o 48 Dia Mundial da Paz.

Neste contexto, o Grupo Economia e Sociedade (GES) exemplifica situações de verdadeira “escravatura”, que “deveriam envergonhar e mobilizar” a sociedade portuguesa, desde trabalhadores e trabalhadoras sem direitos fundamentais de “remuneração condigna; higiene e segurança no trabalho; estabilidade no emprego; tempo de lazer e condições de conciliação da sua vida profissional com a vida pessoal e familiar”.

Outro grupo identificado são os imigrantes sem documentos “sujeitos ao livre arbítrio de patrões sem escrúpulos”; as pessoas, “incluindo crianças”, que são “abusadas sexualmente” ou obrigadas a prostituírem-se.

Na sua denúncia, o GES alerta também a situação das crianças e jovens raptados; o recrutamento de crianças, adolescentes e jovens para serem “correios de droga”, e para a “extrema pobreza” onde se incluem as pessoas em situação de “sem-abrigo”.

Ainda no campo laboral, identificam a escravatura da “excessiva duração dos horários de trabalho”, a sua irregularidade em algumas profissões e o “abuso” do trabalho extraordinário “sem a devida compensação”.

Segundo o GES, na mensagem do Papa há o apelo para que todos se comportem de forma “digna da humanidade” e uma aspiração profunda “à fraternidade”.

Para o grupo anteriormente ligado à Comissão Nacional Justiça e Paz, Francisco convida a uma tomada de consciência, para que se tenha noção de que, no mundo contemporâneo, o homem “é capaz de globalizar” a economia e as finanças, a escravidão e a indiferença” mas não a fraternidade.

Nesse sentido, nesta reflexão de ano novo, as comunidades cristãs – paroquiais ou religiosas – são convidadas a empenharem-se de forma “muito ativa” na denúncia das novas formas de escravatura e na “prestação de auxílio efetivo às suas vítimas”. 

No blogue ‘A areia dos dias, em busca do desenvolvimento sustentável’, o grupo assinala que as mensagens dos Papas, a pronunciarem-se sobre a paz há 48 anos, continuam a ter a “maior das atualidades” ou seja “não perderam a sua eficácia”.

O Grupo Economia e Sociedade explica que a instituição deste dia a 1 de janeiro deve-se a uma iniciativa do beato Papa Paulo VI que, através de uma “mensagem inovadora” dirigiu-se a “todos os homens de boa vontade”.

“Para nós portugueses, foi particularmente assertiva”, observam recordando dados como a visita do Papa à Índia em 1964 ou o facto de ter recebido a visita dos “três principais dirigentes” dos movimentos independentistas das antigas colónias portuguesas.

CB/JCP

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