Escravatura: Uma sociedade que «vê e não se importa»

Irmã Irene Guia comenta mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2015

Lisboa, 31 dez 2014 (Ecclesia) – A irmã Irene Guia considera que a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2015 alerta para o facto de a humanidade estar a perder aquilo que tem de melhor, “a capacidade das pessoas se relacionarem como irmãos”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a religiosa da Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus reforça as críticas que Francisco lança a fenómenos como a escravatura e o tráfico de pessoas, que têm por trás “uma impressionante indiferença” da sociedade.

“Pessoas que estão a sofrer e às quais nós voltamos o rosto”, frisa a irmã, para quem esta realidade “não pode ser enxotada só para os sistemas económicos”.

“Se nós não vemos e não nos importamos, nós mesmos pertencemos a esta cultura”, em que homens, mulheres, idosos e crianças “são explorados, descartados, atirados fora”, salienta.

Um relatório recente das Nações Unidas, prossegue Irene Guia, indicou que “mais de dois milhões de pessoas são anualmente de alguma forma vítimas de tráfico”.

Como primeiro desafio, aponta a religiosa, é preciso que a sociedade seja capaz de ler a mensagem do Papa “com olhos que leem e ver o drama em que se encontram estas pessoas”.

É tempo de “despertar do sono”, no que à prática da fraternidade diz respeito, pois cada indivíduo tem em si capacidade para alterar este paradigma, ser “fermento na massa” de uma nova humanidade.

 “É isto que o Papa alerta, o que é que cada um de nós pode fazer para intervir no plano da cultura”, aponta a consagra das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.

A irmã Irene Guia destaca particularmente as palavras que Francisco dedica à questão da emigração, em que diz que “condicionar a legalidade da presença de um migrante num país a um contrato de trabalho” é uma forma de “trabalho escravo”.

Uma posição “muito, muito forte” e que não poupa ninguém, pois segundo o Papa está em causa a atuação de redes criminosas que “só são possíveis com a cumplicidade das forças da autoridade, da polícia, dos membros do Estado”.

“Ao não estarmos alertas, somos automaticamente cúmplices por omissão”, considera a religiosa, que secunda uma proposta deixada pelo Papa argentino:

Se existem redes criminosas dedicadas à escravatura e à exploração laboral, “porque é que há tanta dificuldade em formar também internacionais de defesa?”, conclui.

A mensagem do Papa Francisco dedicada ao 48.º Dia Mundial da Paz, que se assinala esta quinta-feira, tem como tema “Já não escravos, mas irmãos”.

O comentário da irmã Irene Guia a este texto vai ser transmitido no Programa ECCLESIA do próximo domingo, a partir das 06h00, na Antena 1.

LS/JCP

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