«Fahrenheit 9/11» estreia hoje em Portugal Cineasta que hoje se dedica ao documentário crítico, Michael Moore alcançou grande êxito, em 2002, com «Bowling for Columbine». Agora, insistindo num cinema crítico e de análise de factos reais, reforça o estilo em «Fahrenheit 9/11». É evidente – e Moore assume-o – que o filme não é uma obra politicamente independente que se preocupe com a análise imparcial dos acontecimentos. Pelo contrário, é um trabalho destinado exclusivamente a realçar os erros e contradições do Presidente Bush e de boa parte dos políticos que o rodeiam e o apoiam. Entrevistas diversas dão corpo ao tema, sublinhando-se o seu significado com a inserção de sequências retiradas de noticiários televisivos, vídeos amadores ou obtidas directamente pela câmara de Michael Moore. Tudo condensado para que, a cada passo, tropecemos num erro, numa imprecisão ou numa mentira do Presidente visado, por vezes construindo-se as situações para que se tornem verdadeiramente hilariantes. Assumido que está que o filme não é imparcial resta verificar a sua utilidade. É a expressão de um ponto de vista, unilateral mas com muitos elementos extraídos da realidade e que merecem ser realçados. Para o balanceamento de cada uma das situações falta a possibilidade do contraditório, que poderá vir a aparecer pela mão de algum cineasta de posição politicamente contrária. Mas, desde já, um espectador atento não deixará de separar os factos e as informações mais seguras, de algum excesso na sua forma de tratamento, havendo oportunidade de encontrar informação útil sobre a evolução da política americana. E tudo isto poucos dias passados sobre a divulgação de um relatório de centenas de páginas em que as falhas de segurança, já arrastadas do mandato de Bill Clinton, revelam uma América bem longe da eficiência policial que nos é transmitida nos seus melhores filmes de ficção. Francisco Perestrello
