Portugal/Crise: Presidente da Cáritas pede crescimento económico «ao serviço das pessoas»

Eugénio Fonseca explica prioridade do próximo triénio da instituição católica

Lisboa, 09 dez 2014 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa explicou os desafios e atividades a fomentar nos próximos três anos pela instituição católica numa realidade social onde o desemprego e emigração aumentaram.

“Quem governa não pode olhar só para os aspetos materiais do crescimento económico, tem que olhar para as pessoas. Todo o crescimento só faz sentido se estiver ao serviço das pessoas e não é isso que tem acontecido”, alerta Eugénio Fonseca, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O presidente da Cáritas alerta que os indicadores de crescimento económico e de diminuição de desemprego “não são reais” e exemplifica com a emigração que “baixou de 30%”, nos últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, o desemprego de jovens, “não estão cá, não fazem parte do número de pessoas”.

“Sempre foi assim”, acrescenta o responsável para quem esta situação é recorrente em todos os Governos: “Pessoas que estão em formação ou trabalham duas a quatro horas por semana já não são desempregados e depois existem os que estão tão cansados de irem aos serviços sociais que desistiram, são os desiludidos do mercado de trabalho”, desenvolveu.

Para que estes dados sejam reais e atuais, aos grupos paroquiais é indicado que peçam a quem lhes pede ajuda que “se inscrevam no centro de emprego”.

Para Eugénio Fonseca não se devem criar ilusões mesmo com o crescimento “tímido”, “uma viragem muito lenta”, porque “se calhar não” se conseguem criar os postos de trabalho “perdidos”.

A dívida tem de ser paga, desenvolve o entrevistado, que considera que os governantes, com os credores da ajuda financeira, deviam ter reunido condições para “não causar tanto sofrimento”.

“O que temos assistido é que se cria riqueza, durante a crise aumentaram o número dos ricos, e o problema é que se distribui mal a riqueza produzida e muitas vezes, os que a produzem são os que auferem menos dela”, afirma o presidente da Cáritas Portuguesa.

Numa altura de crise “nunca” se deviam pôr em causa medidas como o rendimento social de inserção ou o abono de família para as crianças”.

Neste contexto, destaca que ao Estado compete “regular, acompanhar e fiscalizar” no sentido “pedagógico”, de fazer crescer a “capacitação das pessoas e dos grupos” e não ser apenas uma questão policial mas criar condições porque a luta contra a pobreza “toca a todos”.

“Os últimos quatro anos projetaram-nos para desafios incontornáveis”, comenta Eugénio Fonseca que foi reconduzido para mais três anos como presidente da Cáritas Portuguesa pela Conferência Episcopal Portuguesa.

Para este período a instituição católica em Portugal vai apostar na “capacitação” dos agentes da ação social paroquial para que exista uma “expressão organizada da caridade” dessa comunidade que é diferente, nos “objetivos e tarefas”, dos centros sociais paroquiais, caso existam, porque “não se substituem”.

Da crise económica e financeira resultou um novo perfil da pessoa que está em “privação de recursos materiais”, por isso é preciso “mudar metodologias e estratégias”.

O perfil de quem procura hoje a Cáritas mudou, com mais pessoas que pertenceram “à classe média” e tiveram “a pouca sorte” de ficar desempregadas e que “têm de fazer parte do processo” de numa lógica de cooperação.

“Porque têm mais capacidades literárias, sociais, conhecem melhor os seus direitos e temos que discutir os projetos de vida. Dar voz às pessoas em situação de carência”, disse Eugénio Fonseca.

PR/CB

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