Vaticano: Francisco desafia religiosos a serem modelo de fraternidade para um mundo em confronto

Papa escreve carta para explicar objetivos do Ano da Vida Consagrada

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 28 nov 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco escreveu uma carta a todos os religiosos e religiosas da Igreja Católica, divulgada hoje no Vaticano, pedindo-lhes que sejam um modelo de fraternidade para o mundo atual.

“Numa sociedade do confronto, da difícil convivência entre culturas diferentes, da exploração dos mais fracos, das desigualdades, somos chamados a oferecer um modelo concreto de comunidade que, através do reconhecimento da dignidade de cada pessoa e da partilha do dom que cada um transporta, permita viver relações fraternidade”, refere a missiva, que tem data de 21 de novembro, festa litúrgica da Apresentação de Maria.

O texto visa explicar os objetivos, expectativas e horizontes do Ano da Vida Consagrada que tem início marcado para este domingo.

“Espero de vós aquilo que peço a todos os membros da Igreja: sair de si para ir ao encontro das periferias existenciais”, escreve Francisco.

O Papa elogia o caminho de renovação da Vida Consagrada nos 50 anos que se seguiram ao Concílio Vaticano II, afirmando que, apesar de todas as fragilidades, é preciso apresentar hoje “a santidade e a vitalidade” presentes nos membros dos vários institutos.

O Ano da Vida Consagrada vai prolongar-se até 2 de fevereiro de 2016, festa litúrgica da Apresentação de Jesus e dia tradicionalmente dedicado aos religiosos e religiosas.

Francisco convida todos a “olhar o passado com gratidão”, por tudo o que a Vida Consagrada já deu à Igreja, chegando hoje a “novos contextos geográficos e culturais”.

Neste sentido, mais do que uma “arqueologia”, os religiosos são desafiados a “percorrer de novo o caminho das gerações passadas”, dos fundadores das ordens e congregações, para colher a sua inspiração.

O Papa pede, por isso, que os consagrados vivam o presente “com paixão”, deixando-se interpelar pelo Evangelho e tendo Jesus Cristo como “primeiro e único amor”.

“A fantasia da caridade não conheceu limites e soube abrir incontáveis caminhos para levar o sopro do Evangelho às culturas e aos mais diversos âmbitos sociais”, assinalou.

A carta deixa uma palavra de esperança para o futuro, apesar de problemas como a diminuição das vocações e do envelhecimento, sobretudo no mundo ocidental, a globalização, a crise económica, o relativismo e a “irrelevância social”.

Francisco, primeiro Papa jesuíta da história, apresenta como marca dos religiosos a “alegria”, numa sociedade que ostenta o “culto da eficiência”, e a “profecia”, para denunciar “o pecado e as injustiças”.

O texto deixa indicações precisas quanto à necessidade de agilizar as instituições, com a “reutilização das grandes casas em favor de obras mais adequadas às atuais exigências da evangelização e da caridade”.

O Papa deixa uma palavra de apreço aos leigos que partilham os ideias e a missão dos institutos consagrados, realçando depois que este ano diz respeito a toda a Igreja, que deve agradecer tudo o que recebeu através da “santidade dos fundadores e fundadoras” e da fidelidade dos religiosos e religiosas ao seu carisma.

Após recordar que há consagrados e consagradas noutras confissões cristãs e que o fenómeno do monaquismo existe “em todas as grandes religiões”, Francisco conclui a sua carta dirigindo-se aos bispos, para que valorizem a Vida Consagrada como algo que “pertence inteiramente” à Igreja Católica, como “elemento decisivo da sua missão”.

OC

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