II Concílio do Vaticano: Imprensa clandestina de inspiração católica

No mesmo ano em que surge a revista «O Tempo e o Modo», em 1963, começa a ser publicado e difundido um jornal clandestino, policopiado, de orientação católica. A publicação «Direito à Informação» era um projecto editorial que “pretendia difundir notícias e documentos que a censura não deixaria passar nos jornais legais, com especial atenção ao problema da guerra colonial”

No mesmo ano em que surge a revista «O Tempo e o Modo», em 1963, começa a ser publicado e difundido um jornal clandestino, policopiado, de orientação católica. Enquanto «O Tempo e o Modo – Revista de Pensamento e Acção» inaugurou na sociedade portuguesa um espaço de diálogo entre católicos e outros meios culturais, a publicação «Direito à Informação» era um projecto editorial que “pretendia difundir notícias e documentos que a censura não deixaria passar nos jornais legais, com especial atenção ao problema da guerra colonial” (In: João Miguel Almeida – «A oposição Católica ao Estado Novo»; Edições Nelson de Matos; Página 123).

Entre 1963 e 1969 saem dezoito números, seis dos quais até 1965. A equipa coordenadora integrava o casal Maria Natália e Nuno Teotónio Pereira, o padre António Jorge Martins, frei Bento Domingues. A tiragem era inicialmente de três mil exemplares e o número de páginas variava. Num artigo publicado no jornal «Público» e depois no livro «Tempos, lugares Pessoas», Nuno Teotónio Pereira realça que o primeiro número foi dedicado à guerra em Angola, “denunciando a prisão e exílio para Portugal de nove padres angolanos, com residências fixas vigiadas pela PIDE em conventos e casas religiosas dispersas de norte a sul do país”.

Na colectânea dos textos, o arquitecto escreveu que o número dois do «Direito à Informação» foi dedicado à miséria “imerecida dos trabalhadores”; o número três colocou novamente em destaque a guerra em África e os dois seguintes “a visita, silenciada com a conivência da Igreja Portuguesa, da viagem de Paulo VI à Índia” (In: Nuno Teotónio Pereira; «Tempos, lugares Pessoas», página 125).
O jornal era policopiado, primeiro nalgumas igrejas e, quando as “exigências da clandestinidade apertaram, num apartamento do Lumiar”. Tal como escreveu João Miguel de Almeida, a distribuição “fazia-se através de contacto pessoal ou por correio, por vezes utilizando, para iludir a vigilância da polícia política, «sobrescritos timbrados de movimentos não suspeitos, como os grupos de casais católicos, cuja direcção aliás não se coibiu de denunciar à PIDE o estratagema, e ainda de empresas fictícias» ”.

Em Novembro de 1964, o Papa Paulo VI visitou a União Indiana, facto que “deixou Salazar furioso, tendo sido imposta uma apertada censura ao acontecimento, que o governo português resolveu silenciar” e “o mais espantoso é que a Igreja foi conivente com esta atitude: as centenas de publicações católicas que se publicavam regularmente, mesmo as que não eram obrigadas a ir à censura, como os boletins paroquiais, obedeceram cegamente à ordem do ditador”.

Este facto levou a que um “grupo de cristãos organizasse a saída de um número único de um jornal chamado «Igreja Presente», que foi impresso em Madrid, graças à colaboração de católicos espanhóis que militavam na oposição ao franquismo.

LFS

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