Antiga presidente pela Comissão de Ética e Ciências da Vida aponta debate que a sociedade vai ter de realizar
Lisboa, 07 nov 2014 (Ecclesia) – A jurista Paula Martinho da Silva considera que a saúde em Portugal vai conhecer tempos de “desigualdade” e poderá por em causa “valores” que têm sustentado a construção social.
“Há o reconhecimento de que a medicina e a ciência estão a desenvolver-se e que encontramos já hoje, e vamos continuar a encontrar, meios de diagnóstico e de tratamentos sofisticados que nos vai permitir antecipar a doença. Mas não estarão disponíveis para todos”, indica a antiga presidente pela Comissão de Ética e Ciências da Vida.
A comentadora da ECCLESIA analisava um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública, apresentado na Assembleia da República, sobre a necessidade de participação do cidadão nos cuidados de saúde.
A jurista sublinha ser “extremamente duro estabelecer listas de critérios” para “incluir ou exclui” pacientes em tratamento, mas que “essa já é uma prática”, aplicada a transplantes, por exemplo.
“Pensemos em critérios de idade, que em casos médicos se justifica; mas não se pode generalizar. Não podemos correr o risco de abrir outras portas. Temos de perceber quais os limites éticos e que sociedade queremos construir”, observou.
O debate em torno da participação do cidadão nas decisões relativas à saúde está em marcha nos Estados Unidos da América e também na Europa.
Em Portugal, Paula Martinho da Silva integra um grupo de reflexão que recentemente publicou um relatório, desencadeado por uma conferência da Fundação Calouste Gulbenkian, «Um futuro para a saúde», onde a participação do cidadão é vista como necessária.
“Quando se fala em saúde, já não se fala apenas de paciente; hoje a terminologia implica a pessoa e a sua responsabilidade na tomada de decisões”, indica a jurista.
A análise feita por Paula Martinho da Silva pode ser acompanhada no programa ECCLESIA deste domingo, na Antena 1, às 06h00.
LS