Síria: «Estado Islâmico» exige intervenção mundial concertada, diz patriarca

D. Gregório III Laham está em Portugal para falar das consequências de uma «guerra sem rosto» sobre a população

Lisboa, 31 out 2014 (Ecclesia) – O patriarca sírio Gregório III Laham disse hoje à Agência ECCLESIA que o avanço do autoproclamado 'Estado Islâmico' representa um “perigo” para todos e pede consenso na comunidade internacional para superar o fundamentalismo.

“É um complô contra o Islão, para o destruir a partir do seu interior, dividi-lo. É um movimento sem valores”, referiu o responsável, que se encontra em Lisboa a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Segundo o patriarca, uma intervenção militar unitateral ou de poucos países vai “causar mais divisões e mais guerra” em vez de travar o conflito, lamentando que a coligação internacional tenha já atingido alvos civis.

“É preciso um consenso, um acordo geral de todas as partes. Se este é um perigo tão grande para a humanidade, é preciso que todos os países do mundo se coloquem de acordo”, advertiu.

D. Gregório III Laham aponta para resultados “ideológicos” deste consenso, promovendo uma “contraproposta” mundial ao ‘Daesh’ que “não é nem Estado nem islâmico”.

“Muitos dos mercenários, dos guerrilheiros que estão agora na Síria com o Daesh, essa gente que combate perdeu o sentido da vida e do homem, não são muçulmanos. São pessoas que se converteram através da internet, que formação muçulmana é que têm? É um álibi”, acrescenta.

Os jihadistas dominam territórios com 15 milhões de pessoas em 40 mil quilómetros quadrados, uma tal dimensão “que não parece real”.

O patriarca greco-melquita revela que os líderes cristãos na região está a manter conversações com o grande mufti do Egito a fim de promover uma “cimeira espiritual, inter-religiosa” entre muftis e patriarcas e criar uma “frente comum”.

D. Gregório III Laham fala na Síria como o “berço do Cristianismo”, atingido por uma guerra civil que desde 2001 provocou mais de 150 mil mortes e mais de oito milhões de deslocados e refugiados.

“É uma guerra sem rosto e eu não sei o porquê da guerra”, refere o patriarca, para quem o conflito sírio não responde a um anseio de uma oposição “moderada”, mas dos interesses de “dois mil grupos” diferentes que “querem dinheiro, não têm programa, não são alternativa”.

Durante a sua permanência em Portugal, Gregório III Laham vai proferir conferências em Lisboa e Fátima sobre a ‘situação dos refugiados da Síria e do Iraque no Médio Oriente’.

O responsável apela à ajuda dos cristãos europeus para as populações que regressam agora aos seus lares, a superação dos “traumas” e a reconstrução de cerca de uma centena de igrejas destruídas ou danificadas durante a guerra civil.

“Todos os que trazem um hábito se transformaram num centro de ajuda e é importante que o bispo, o patriarca seja a mão que ajuda”, precisa.

A vinda do líder greco-melquita de Antioquia a Portugal está inserida numa campanha de sensibilização da AIS que inclui ainda a visita do arcebispo de Zahlé, no Líbano, que esta terça-feira participará na apresentação do relatório dedicado à Liberdade Religiosa (Assembleia da República, 17h00).

D. Gregório III Laham sustenta que a defesa da “presença” cristã tem de estar ligada à “missão” da Igreja na região, até para evitar que o apoio dos outros cristãos seja visto como uma nova “cruzada”.

“Peço sempre que não se fale demasiado em perseguições, senão vamos ser colocados em guetos, porque os cristãos são uma minoria, vamos criar uma mentalidade defensiva, de pessoas vencidas”, prosseguiu.

O patriarca define a presença da “Igreja árabe” como uma missão “com e para os outros”, sem entrar em “competição”, mas apresentando um “valor especial”, a mensagem de Jesus Cristo.

OC

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Agência ECCLESIA

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