Lisboa, 29 out 2014 (Ecclesia) – O padre António Pedro Monteiro, da Assistência Espiritual e Religiosa no Hospital Santa Maria, explica o hospital como um espaço de vida, “por um fio” ou “muito sabor”, o local onde também viu o quadro vivo da “Pietà”.
“Acompanhei um casal que tinha um filho com meses de vida e cinco deles tinham sido passados no hospital com problemas respiratórios. Foi para casa e voltou com um cancro no fígado”, começa por explicar uma relação que evoluiu por ser uma presença gratuita.
Nos primeiros dias, recorda o sacerdote à Agência ECCLESIA, “ia a tremer” ter com pais que estão com o “filho e com o coração nas mãos, com o tempo a escorrer”.
O padre António Pedro Monteiro, que conta com quatro anos de ordenação sacerdotal, destaca que “não ia curar o filho” deste casal e “não tinha pretensão nenhuma”, apenas ser presença numa situação que também era nova para si, “sem vender peixe absolutamente nenhum”.
“O despejar o turbilhão de sentimentos e a revolta” que os pais estavam a passar só aconteceu quando estes se sentiram preparados, depois de conversas informais, disse o sacerdote na entrevista que vai ser transmitida hoje no programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, a partir das 22h45.
“Foi a primeira vez que vi uma Pieta ao vivo, a mãe com o filho nos braços, foi também a primeira vez que toquei numa pessoa morta. O tempo que passamos entre sorrisos também passamos entre choros e abraços”, recordou o padre António Pedro Monteiro.
O entrevistado revelou esta história que o marcou nestes dois anos de serviço de assistência espiritual e religiosa onde ganhou “amigos” e a “certeza” que os padres “não são super-heróis”, que Deus “também não é super-herói” e “não veio para os super-heróis”.
Da experiência de Assistência Espiritual e Religiosa do Hospital de Santa Maria considera que “o tempo faz doer” e se para algumas pessoas “pode ser uma pedra preciosa para outros pode ser um punhal”.
“Ouve-se poucas vezes as pessoas que estão internados a queixarem-se da doença, o que mais faz sofrer, a maior parte das vezes, são as relações, a falta de perdão que falta acontecer, sobretudo o perdão de si próprio que demora tanto a encontrar-se”, desenvolve o sacerdote.
Segundo o decreto-lei 253/2009, o serviço de assistência espiritual e religiosa presta cuidados espirituais e religiosos aos utentes internados e familiares, bem como funcionários e voluntários respeitando as convicções espirituais e religiosas do utente.
Por iniciativa do próprio utente surgem depois visitas e momentos de encontro pessoal e espiritual, acrescenta o decreto-lei sobre a realidade desta assistência e sobre a realidade de acompanhamento do padre António Pedro Monteiro.
“Sou chamado muitas vezes a título de uma conversa gratuita e se calhar só à terceira conversa é que começamos a entrar nas profundezas do que afinal a pessoa queria”, exemplifica o entrevistado que percebeu “que o tempo por si não faz nada” apenas possibilita “um caminho que se faz com as etapas”.
O padre António Pedro Monteiro que sente o hospital como um espaço de vida, “às vezes por um fio, às vezes com muita aflição” e às vezes “com muito sabor” considera que o melhor serviço que prestam a quem precisa da sua presença, silêncio, companhia ou conforto e amizade é apresentar-se “inteiros do outro inteiro”.
SN/CB