Interrupção dos colóquios de paz para Darfur provoca desilusão

As guerras sudanesas: armas não convencionais (fome) e guerreiros não convencionais (criança-soldados) A Comunidade católica de Santo Egídio manifestou a sua desilusão pelo final dos colóquios para a paz no Darfur, região ocidental do Sudão, que, desde o passado dia 15 de Julho, procurava um acordo entre governo sudanês e os dois movimentos de guerrilha. “Estamos muito frustrados com a interrupção das negociações em Addis-Abeba, mas estamos convencidos de que o processo de paz não morreu. Estamos, de facto, trabalhando para retomar os colóquios o mais rápido possível”, declarou à Agência Fides Vittorio Scelzo, um dos observadores da Comunidade de S. Egídio presentes no encontro. Os colóquios desenrolaram-se em Addis Abeba, capital da Etiópia e sede da União Africana, entidade que promoveu o encontro para tentar pôr fim ao conflito em Darfur, região a Oeste do Sudão, que desde Fevereiro de 2003, é cenário de um violento confronto entre dois grupos rebeldes – o Movimento para a Justiça e a Igualdade (JEM) e o Exército-Movimento de libertação do Sudão (SLA-M) – e o exército regular sudanês, que provocou milhares de vítimas e pelo menos um milhão de refugiados. “Nesta fase, quando ainda estão em curso combates, é já importante que as duas partes tenham iniciado a discussão. Francamente, era difícil esperar desses colóquios preliminares um milagre e agora a esperança é que as discussões sejam retomadas o mais depressa possível”, disse Scelzo. Um olhar sobre a guerra no Sudão A guerra civil do Sudão é uma guerra complexa, como fica explicado pelo missionário Pe. Mathew Haumann, que acaba de publicar um livro sobre o conflito, intitulado “Travelling with soldiers and bishops” (viajando com soldados e bispos). “As motivações da guerra civil sudanesa são múltiplas: existem aspectos étnicos, existe algo semelhante ao ‘apartheid’ entre os árabes do norte e as populações africanas do sul, mas os factores religiosos e culturais também desempenham um papel significativo, que se percebe pelo modo como o governo procura islamizar todo o país”, explica o sacerdote. Além disso, existem ainda interesses económicos, como a exploração do petróleo. “Pode-se dizer que a guerra civil sudanesa é um interesse de pequenas guerras que se permeiam uma na outra, criando um cenário muito complexo”, afirma o Pe. Haumann. As armas usadas são muito diferentes: a fome. Uma guerra de outros tempos, na qual milhares de civis se tornaram escravos e cujos combatentes geralmente são crianças-soldados. “Uma geração inteira cresceu sem nunca ter feito experiência do que significa viver em paz. Esquece-se que a maior parte das vítimas da guerra são crianças que foram engolidas pelo conflito e não conseguem sair dele, e estas mesmas crianças são o futuro do Sudão”, diz o missionário.

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