Igreja: Papa quer abrir portas na China e Coreia do Norte

Francisco defendeu diálogo com culturas asiáticas, alertando para tentações do relativismo e superficialidade

Seosan, Coreia do Sul, 17 ago 2014 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje que a Igreja Católica deve ter uma atitude de “abertura” na Ásia e desejou maior diálogo na relação com países como a China e a Coreia do Norte, sem os citar diretamente.

“Num tal espírito de abertura aos outros, espero firmemente que os países do vosso continente com os quais a Santa Sé ainda não tem plenas relações não hesitem em promover um diálogo para benefício de todos”, declarou Francisco, num encontro com cerca de 70 bispos asiáticos que decorreu na cidade costeira de Seosan, na Coreia do Sul.

"Não me refiro apenas ao diálogo político, mas ao diálogo fraterno", precisou, de improviso, para realçar que os cristãos não devem ser vistos como "conquistadores" que querem anular a identidade de ninguém.

O porta-voz do Vaticano disse aos jornalistas que esta intervenção foi um "sinal de boa vontade" para países como a China, Coreia do Norte, Laos, Myanmar, Butão e Brunei; o Vietname está a negociar com a Santa Sé o estabelecimento de relações bilaterais.

"Esta oferta do Papa para o diálogo é para todos estas nações e não apenas para um, ainda que a China seja a maior", referiu o padre Federico Lombardi.

No seu discurso aos bispos, o Papa deixou várias indicações aos responsáveis em relação ao rumo que as suas comunidades devem seguir na Ásia, um continente onde a Igreja Católica é minoritária (cerca de 3% da população), sendo apresentada por Francisco como "um pequeno rebanho".

“Neste vasto continente, onde vive uma grande variedade de culturas, a Igreja é chamada a ser versátil e criativa no seu testemunho do Evangelho, através do diálogo e da abertura a todos”, declarou.

Para Francisco, o “diálogo autêntico” exige “um sentido claro da identidade própria de cada um” e a “capacidade de empatia”.

“Esta capacidade de empatia torna-nos capazes de um verdadeiro diálogo humano, no qual palavras, ideias e perguntas brotam de uma experiência de fraternidade e humanidade compartilhada; leva a um encontro genuíno, no qual o coração fala ao coração”, realçou.

O Papa deixou alertas três para “tentações” que podem prejudicar a vivência cristã, a começar pelo “deslumbramento enganador do relativismo”.

A segunda ameaça à identidade cristã é a “superficialidade”, “a tendência a entreter-se com as coisas de moda, quinquilharias e distrações, em vez de se dedicar a coisas que contam realmente”.

Francisco referiu-se ainda a uma terceira tentação, a “aparente segurança de se esconder atrás de respostas fáceis, frases feitas, leis e regulamentos”.

“Se a nossa comunicação não quer ser um monólogo, deve haver abertura de mente e coração para aceitar indivíduos e culturas”, advertiu.

O Papa pediu que a identidade cristã de cada comunidade seja visível nos “programas de catequese e de pastoral juvenil”, no “serviço aos pobres e a quantos desfalecem à margem das nossas sociedades ricas” e nos “esforços por alimentar as vocações ao sacerdócio e à vida religiosa”.

O encontro decorreu no Santuário de Haemi, 151 quilómetros a sul de Seul, no penúltimo dia da viagem à Coreia do Sul, que se iniciou na quinta-feira.

O local recorda os cristãos mortos nas perseguições do séc. XIX, cuja identidade é desconhecida, em muitos casos.

OC

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Agência ECCLESIA

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