Francisco homenageia legado dos mártires em cerimónia de beatificação acompanhada por 800 mil pessoas em Seul
Seul, 16 ago 2014 (Ecclesia) – O Papa disse hoje em Seul que o legado dos mártires coreanos deve contribuir para promover a paz e os valores humanos no país e no mundo, condenando a "pobreza abjeta" na sociedade atual.
“O legado dos mártires pode inspirar todos os homens e mulheres de boa vontade a trabalharem harmoniosamente por uma sociedade mais justa, livre e reconciliada, contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores autenticamente humanos neste país e no mundo inteiro”, declarou, na homilia da Missa de beatificação de 124 mártires, perante uma multidão estimada em 800 mil pessoas, segundo a Rádio Vaticano.
Paulo Yun Ji-chung e os seus 123 companheiros foram mortos por causa da sua fé cristã entre 1791 e 1888, numa altura em que os governantes coreanos temiam as consequências do crescimento do cristianismo numa nação baseada na ideologia do confucionismo.
“O seu exemplo tem muito a dizer-nos a nós que vivemos numa sociedade onde, ao lado de imensas riquezas, cresce silenciosamente a pobreza mais abjeta, onde raramente se escuta o grito dos pobres e onde Cristo continua a chamar, pedindo-nos que o amemos e sirvamos, estendendo a mão aos nossos irmãos e irmãs necessitados”, declarou Francisco.
O terceiro dia da viagem pontifícia à Coreia do Sul, que se conclui na segunda-feira, começou com uma visita ao Santuário dos Mártires de Seosomun, que surge no local onde foram mortos os 103 católicos canonizados por São João Paulo II em 1984.
Francisco depositou uma coroa de flores e rezou em silêncio, antes de seguir em carro aberto para a praça de Gwanghwamun, ligada ao julgamento e execução de milhares de católicos que recusaram o confucionismo.
Milhares de pessoas chegaram ao local desde a noite anterior e acompanham a celebração, no centro de Seul, através de dezenas de ecrãs gigantes espalhados pela capital sul-coreana.
O Papa voltou a destacar o facto de a fé cristã ter chegado à Coreia através de leigos locais e não de missionários, na “busca da verdade religiosa”.
“Esta história é muito elucidativa sobre a importância, a dignidade e a beleza da vocação dos leigos. Dirijo a minha saudação a tantos fiéis leigos aqui presentes, especialmente às famílias cristãs que diariamente, com o seu exemplo, educam os jovens para a fé e o amor reconciliador de Cristo”, referiu.
Francisco elogiou o exemplo dos mártires, que apresentou como inspiração para os católicos de hoje, num momento em que a sua fé “é posta à prova pelo mundo” e têm de superar “muitíssimas maneiras para condescender no referente à fé, diluir as exigências radicais do Evangelho”.
“Foi a pureza do seu testemunho de Cristo, manifestada na aceitação da igual dignidade de todos os batizados, que os levou a uma forma de vida fraterna que desafiava as rígidas estruturas sociais do seu tempo”, assinalou, a respeito dos novos 124 beatos.
Neste contexto, o Papa concluiu com uma evocação dos “inúmeros mártires anónimos” da Coreia e de todo o mundo que, “especialmente no século passado, ofereceram a sua própria vida por Cristo ou sofreram duras perseguições por causa do seu nome”.
OC