No news is good news. Será mesmo?

Octávio Carmo

A convicção de que a ausência de notícias sobre determinado tema significa que nada de mau aconteceu é, na essência, reflexo de um jornalismo que só ‘vende’ dramas, tragédias, escândalos e notícias tristes. O espaço mediático para casos de sucesso, histórias de dedicação ao outro ou figuras inspiradoras, pelo seu percurso de vida, é por norma um espaço ‘separado’, distinto do tradicional borbulhar dos factos que se sucedem, catastroficamente, sempre prontos a atropelar um quotidiano tranquilo.

Não sei o que seria o mundo da comunicação de hoje se optasse, num tempo em que cada vez mais pessoas têm acesso a dados em tempo real, por valorizar mais este lado mais positivo da existência humana em vez de enveredar – salvo raras exceções, honrosas – pela exploração escandalosa de dramas ou histórias obscuras, sem qualquer filtro ético ou deontológico. Dar ao público o que ele ‘quer’ não pode ser nunca o papel de quem se assume como mediador, como um elemento de confiança e credibilidade no meio da imensa maré de disparates, banalidades e mentiras que vão poluindo o espaço existencial de cada um.

A decisão sobre o que é necessário publicar ou deixar de lado, admita-se, nunca é fácil. Das acusações de se criarem ‘escândalos seletivos’ ao questionamento pela ausência de referências mediáticas a factos que alguns julgam relevantes, tudo tem de ser levado em linha de conta e devidamente fundamentado, na altura de responder perante o público. Compreendo, por isso, que muitos cedam à tentação dos números – que são os que geram dinheiro, através da publicidade – para mudar linhas editoriais e até a própria identidade dos meios que dirigem, embalados até na ilusão de seguirem a evolução dos tempos. Por muitas voltas que o mundo dê, não há jornalismo sem jornalistas, não há notícias sem o seu trabalho, não há grandes reportagens sem coragem.

Além da falta de recursos, falta ainda o tempo: para ouvir histórias, para as contar, para descobrir protagonistas diferentes. Para escolher o que é bom e o que é mau, porque nem tudo é igual e a objetividade necessária para um profissional não o exime de avaliar o que deve ou não apresentar como seu. No fim de contas, para evitar que os jornalistas sejam vistos como aves de mau agoiro, que só aparecem quando há tempestade no horizonte…

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