Igreja/Portugal: Padre Abel Varzim deixou um «lastro» de «sensibilidade social» que importa continuar

Lisboa, 18 jul 2014 (Ecclesia) – O historiador Paulo Fontes recorda o padre Abel Varzim, 50 anos após a sua morte, sublinhando que o sacerdote deixou um “lastro” de “sensibilidade social”, capacidade “reflexiva” e espírito de “iniciativa” que deveria merecer maior “atenção”.

Numa entrevista publicada na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, o professor universitário sublinha que dar voz ao legado do sacerdote “é um desafio que hoje ainda está posto à sociedade em geral e, de uma maneira muito particular, à Igreja Católica em Portugal”.

Mesmo o “Fórum Abel Varzim”, fundado “por muitos dos que trabalharam, conheceram ou foram influenciados pelo percurso” do chamado “apóstolo dos trabalhadores” deveria ter uma intervenção mais efetiva no âmbito do “pensamento de Abel Varzim”, sustenta o docente da Universidade Católica Portuguesa.

Ao longo da abordagem ao percurso de vida do sacerdote natural de Cristelo, em Barcelos (1902-1964), Paulo Fontes destaca a forma como ele contribuiu para a afirmação de uma Ação Católica Portuguesa fortemente enraizada “na realidade social”, próxima dos problemas das pessoas, “no meio operário, agrário, rural e universitário”.

Numa época em que Portugal vivia sob a égide do Estado Novo, o padre Abel Varzim destacou-se na luta por um sistema laboral mais justo e na defesa dos direitos dos trabalhadores, perante um modelo “todo ele controlado” pelo regime.

“A valorização” do direito à “liberdade associativa” e do “direito à greve” foram dois pontos que marcaram a intervenção cívica e política do sacerdote.

Um trabalho que continuou a realizar, ainda que em outros moldes, quando foi “afastado” nos anos 50 “do trabalho de assistência religiosa à Ação Católica.

Colocado à frente da Igreja da Encarnação, no Chiado, o padre Abel Varzim ficou célebre também pelo seu trabalho junto das prostitutas, que eram “toleradas” mas completamente “ostracizadas” pela sociedade.

“O padre Abel Varzim vem de um catolicismo normativo, moralizador, ele quer extirpar o mal do Bairro Alto e para isso acha que há que conduzir uma espécie de campanha cívica para libertar o bairro da presença da prostituição e dessas mulheres e o que ele vai encontrar é uma realidade que se dirige a ele”, recorda Paulo Fontes.

A sua vontade em levar mais dignidade a essas mulheres, e a dar-lhes outras perspetivas de vida, esteve na origem da criação de vários centros de recuperação para prostitutas.

O investigador chama ainda a atenção para “um outro traço” do percurso do padre Abel Varzim, que ganhou consistência através do seu “envolvimento como professor no Instituto de Serviço Social de Lisboa”.

Foi nessa instituição que ele mobilizou jovens universitários para a organização de centros sociais de apoio às populações, nos bairros mais problemáticos de Lisboa.

LFS/JCP

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