Tráfico humano: Identificação de rede criminosa é «ponta do icebergue»

Irmã Júlia Bacelar alerta para situação das mulheres vindas de África

Lisboa, 17 jul 2014 (Ecclesia) – A irmã Júlia Bacelar, da Congregação das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento, considera as recentes informações sobre redes de tráfico de mulheres deve reforçar o trabalho preventivo que as organizações têm feito em Portugal.

“Sobretudo as mulheres que chegam de África relatam-nos itinerários parecidos ao tráfico de seres humanos”, explicou a religiosa, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras revelou esta semana que desmantelou uma rede de tráfico de pessoas e auxílio à imigração ilegal, em Portugal.

A Congregação das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento tem por missão o acolhimento de mulheres em situação vulnerável através de vários centros em Portugal onde chegam duas realidades de exploração, as mulheres que vieram acompanhadas por familiares e as “alegadamente ligadas a alguma rede de tráfico de pessoas”.

“É um percurso muito estranho mesmo, o que nos leva a crer que há aqui um itinerário de tráfico. Estamos convencidas de que isto é apenas uma gota no oceano, a ponta do icebergue”, acrescenta.

Em Portugal foi criada a Rede de Apoio e Proteção às Vítimas de Tráfico (RAPVT), a 21 de junho de 2013, coordenada pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, com mais de duas dezenas de organizações públicas e privadas com objetivos de “sensibilização”.

“É importantíssimo estarmos à mesma mesa a falar, o que podemos fazer, as perspetivas que temos, como fazer, até chegarmos a consensos”, explica a irmã sobre os encontros realizados.

A próxima reunião é em setembro, mas neste momento a RAPVT está a preparar ações e informação para o dia 18 de outubro, quando se assinala o Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, direcionadas para as vítimas.

“Focalizamos muito o trabalho nesse dia, mas tinha de ser todos os dias do ano, para que a sociedade tenha consciência disso”, alerta a irmã Júlia Bacelar.

Noutro âmbito estão também a preparar formações, para os técnicos, em cidades do interior de Portugal descentralizadas de Lisboa ou Porto.

O Observatório do Tráfico de Seres Humanos, tutelado pelo Ministério da Administração Interna, revelou que o número de crianças vítimas de tráfico também aumentou nos últimos três anos e que os aeroportos portugueses, de Lisboa e do Porto, são passagem para países como França, Bélgica e Reino Unido.

“Penso que ainda não são informações que estejam terminadas. Foi uma pontinha que apareceu agora, porque hão-de aparecer outras”, comentou a irmã Júlia Bacelar que elogia o trabalho do Observatório e pede mais meios para a polícia “fazer um trabalho de fundo, de investigação de terreno”.

A prevenção e a sensibilização contra o tráfico de seres humanos e exploração de pessoas, na opinião da entrevistada, são um trabalho “transversal” e que deve ser feito nos países de origem e de chegada.

“É preciso resolver os problemas que estão na origem – pobreza, conflitos familiares, guerras”, analisa a religiosa das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento.

CB/OC

 

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