Presidente da Cáritas alerta para otimismos excessivos
Setúbal, 04 jul 2014 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Portuguesa diz que o Governo deveria ter mais “cuidado” na utilização da expressão “saída limpa”, que surgiu na sequência do fim da assistência económica ao país.
Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, Eugénio Fonseca recorda que “esta saída limpa deixou manchada a vida de muita gente” com “sangue, suor e lágrimas”, pessoas que sofreram na pele os efeitos da crise e da consequente política de austeridade.
Aquele responsável aconselha por isso “cuidado” no “manuseio das palavras”, porque “muitas vezes a palavra pode ir no sentido contrário da imagem”.
“A imagem não é só aquela que é televisionada, é a imagem daqueles com que nos encontramos todos os dias”, sublinha.
O presidente acredita que ainda vai “levar muito tempo a limpar as manchas que ficaram no coração, na alma” dos portugueses.
“Não se diga, e os relatórios da Cáritas Europa vão nesse sentido, que o pior da crise já passou, que já estamos numa fase ascendente, que o desemprego já está a diminuir”, alerta Eugénio Fonseca.
Mesmo que estejam em causa parâmetros como o Produto Interno Bruto ou a dívida internacional “é preciso também alguma cautela”, acrescenta aquele responsável, porque Portugal não está ainda em condições de “cumprir” o “pacto orçamental que foi estabelecido”.
O presidente da Cáritas Portuguesa pede maior consciência às autoridades políticas e também à sociedade, caso contrário o país continuará na mesma conjuntura económica, pelo menos durante mais “20 anos”.
Encerrar os capítulos da crise e da austeridade depende do esforço de “todos”, e Eugénio Fonseca reforça a palavra “todos”, em primeiro lugar na implementação de um estilo de vida mais sóbrio, para que o país não gaste aquilo que não tem.
O líder da organização solidária católica ressalva que esta “sobriedade” nunca pode “atingir a dignidade das pessoas”.
Por outro lado, e “porque os recursos financeiros escasseiam”, a recuperação total de Portugal implica que aqueles com “mais recursos” tenham “a capacidade de abdicar” de uma parte desse dinheiro, que para eles seja “supérfluo”, e o coloquem à disposição das pessoas que buscam “condições dignas de vida”.
Eugénio da Fonseca refere-se à taxa de desemprego, que de acordo com os últimos indicadores fornecidos pelo Governo, estará “a baixar ou a estagnar”.
“Isso não significa que isto possa, neste momento, ser muito um sinal já de libertação de um flagelo, porque temos de saber porque é que o desemprego diminuiu”, sustenta.
O presidente da Cáritas lembra que muitas pessoas têm saído do país, outras têm-se reformado mais cedo, o que tem feito “diminuir o número de pessoas em idade ativa”.
E este número é precisamente o principal parâmetro na “medida das taxas de desemprego”, ressalva.
Depois, aponta que a contabilidade em termos de empresas que abriram e as que fecharam portas continua a pender para o lado das que faliram, o que tem posto em causa a “autonomia financeira” de muitas pessoas.
“Aqueles que estão na Cáritas e continuam a precisar do seu apoio vêm cada vez mais”, frisa Eugénio Fonseca.
HM/JCP