Francisco concedeu entrevista a jornal italiano em que fala ainda sobre o futuro da Igreja
Roma, 29 jun 2014 (Ecclesia) – O Papa concedeu uma entrevista ao jornal italiano ‘Il Messaggero’, publicada hoje, na qual afirma que a atual crise é sinal de uma “decadência moral” e reafirma a prioridade aos pobres.
“Estamos a viver não tanto uma época de mudanças, mas uma mudança de época: trata-se, portanto, de uma mudança de cultura”, referiu Francisco, para quem esta transformação “alimenta a decadência moral, não só na política mas também na vida financeira ou social”.
O Papa rejeita, como em ocasiões anteriores, o rótulo de ‘marxista’, afirmando mesmo que “a bandeira dos pobres é cristã” e que os comunistas a “roubaram”.
“O que eu digo é que os comunistas nos roubaram a bandeira. A bandeira dos pobres é cristã. A pobreza está no centro do Evangelho. A pobreza no centro do Evangelho”, afirma Francisco.
“Podemos ver também as bem-aventuranças, outra bandeira. Os comunistas dizem que tudo isto é comunismo. Pois, está bem, só que chegam vinte séculos depois”, prossegue.
O Papa retoma as suas preocupações com as consequências do desemprego, frisando que quem perde o seu trabalho “tem de lidar com outra pobreza, já não tem dignidade”.
“Até pode ir à Cáritas e levar para casa um saco de bens alimentares, mas sente uma pobreza gravíssima que lhe destrói o coração”, precisou.
A entrevista, publicada na solenidade de São Pedro e de São Paulo, os padroeiros da Igreja de Roma, Francisco é questionado sobre o seu discurso em relação às mulheres e o seu papel na comunidade católica.
“A mulher é a coisa mais bela que Deus fez”, começa por afirmar o Papa, realçando que “se deve trabalhar mais sobre a Teologia da mulher” e falar mais neste tema.
O Papa pede uma Igreja capaz de “sair à rua” e ir em busca das pessoas, “entrar nas casas, visitar as famílias, andar nas periferias”, não ser “apenas uma Igreja que recebe, mas que oferece”.
A menos de dois meses de visitar a Coreia e perspetivando ainda a viagem ao Sri Lanka e Filipinas, em janeiro de 2015, Francisco afirma que “a Igreja na Ásia é uma promessa” e assume que a China representa “um grande desafio cultural, enorme”.
Questionado sobre a direção que está a tomar a “Igreja de Bergoglio”, o Papa argentino responde: “Graças a Deus, não tenho nenhuma Igreja, sigo Cristo, não fundei nada”.
Francisco admite que mantém o “estilo” que tinha em Buenos Aires e declara mesmo que seria “ridículo” mudar, com a sua idade.
Em relação ao programa do pontificado, o Papa recorda que muitas decisões tinham sido pedidas pelas reuniões de cardeais que antecederam o Conclave de março de 2013, em que foi eleito, como por exemplo a criação de um conselho para o aconselhar na reforma da Cúria Romana.
“As minhas decisões são fruto das reuniões pré-conclave, não fiz nada sozinho”, conclui.
OC