Com o falecimento (em maio último) de D. Eurico Dias Nogueira convém recordar alguns Flashes da vida do último bispo português – ainda vivo – que participou no II Concílio do Vaticano (1962-65)
Com o falecimento (em maio último) de D. Eurico Dias Nogueira convém recordar alguns Flashes da vida do último bispo português – ainda vivo – que participou no II Concílio do Vaticano (1962-65).
Nomeado bispo de Vila Cabral (Moçambique) em meados de 1964, o padre Joel Carlos Antunes que o acompanhou neste caminho episcopal recordou – nas celebrações jubilares dos seus 25 anos de bispo – como este trajeto teve o seu início. “Tudo começou entre dois «finos» no parque da baixa conimbricense. Numa tarde quente de Julho, a mim que do Seminário Menor da Figueira me deslocava a Coimbra para participar num retiro, o Dr. Eurico de então faz-me um convite, tão vago como impreciso, para um passeio que anunciava longo e antevia demorado” (In: Jubileu Episcopal de D. Eurico Dias Nogueira – Arcebispo Primaz; Braga, Junho de 1990).
Fiado na sua amizade, o padre Joel Carlos relatou, no colóquio de homenagem, que “até porque não era a primeira vez que viajava no seu velho Volkswagen”. Três dias depois, no silêncio do retiro, foi “surpreendido pela notícia de que o Dr. Eurico Nogueira fora nomeado bispo para Vila Cabral”. E acrescenta: “Só então me apercebi do alcance do convite e do destino do «passeio»”.
Já em terras moçambicanas, o padre Joel Antunes recorda alguns episódios da missão episcopal de D. Eurico Dias Nogueira. “Não eram de todo pacíficas, em 1964, as relações entre missionários e o governador distrital”. Apesar de estar presente na recepção oficial ao primeiro bispo do Niassa mas, “poucos dias depois, dá-se o primeiro incidente entre ambos”.
O governador, “com tentações de absolutismo num império com a superfície de seis quartos de Portugal (120 mil Km2), manda o secretário à Missão” que distava cerca de 3 km da cidade, e onde D. Eurico Dias Nogueira fixara residência “por falta de casa na sede”, a comunicar-lhe que o governador desejava falar-lhe, “pelo que se devia dirigir ao palácio” (Lê-se no artigo citado anteriormente).
Vale a pena transcrever o diálogo entre o bispo de Vila Cabral e o secretário do governador.
D. Eurico – “Não sei se ouvi bem. Então o sr. governador deseja falar comigo e pede para eu ir ao seu palácio…”
Secretário – “Sim, sim, é isso mesmo. O sr. governador mandou-me comunicar que tinha assuntos a tratar com V. Ex. e pede para lá se deslocar”.
D. Eurico – “Por favor diga ao senhor governador que sinto muito prazer em me encontrar com sua excelência e, quando eu tiver assuntos a tratar com ele, procurá-lo-ei gostosamente no palácio; mas quando o sr. governador quiser falar com o bispo da diocese, este de bom grado abrirá a sua excelência as frágeis portas da sua habitação, se não se sentir diminuído por entrar em casa tão modesta”.
Este diálogo é revelador da personalidade de D. Eurico Dias Nogueira, homem do II Concílio do Vaticano, que sabia separar as águas e ver os assuntos dos dois lados das margens do rio.
LFS