No último mês de maio faleceu a última «memória viva», dos bispos portugueses que participou no II Concílio do Vaticano (1962-1965).
Neste mês de maio de 2014 faleceu a última «memória viva», dos bispos portugueses que participou no II Concílio do Vaticano (1962-1965). Olhando para a sua biografia, D. Jorge Ortiga disse na homilia da missa exequial de D. Eurico Dias Nogueira que este bispo serviu “o seu país e a Igreja em dois grandes momentos de mudança” da sociedade. Os primeiros tempos do pós-25 de abril e do pós-concílio apresentaram-se, “sem dúvida, como um tempo difícil, um tempo de indefinição e um tempo de procura de uma identidade própria, após a queda dos paradigmas socio-religiosos antecedentes”.
Na verdade, entre outras coisas, o “acolhimento prestado aos retornados do ultramar”, na cedência do seminário conciliar de Braga, revela que “o maior poder de um bispo não é a autoridade mas a caridade”, disse o atual arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga.
Dos “inúmeros momentos” que D. Jorge Ortiga guarda na memória sobre a vida de D. Eurico Dias Nogueira, evoca “a sua ousadia, inteligência e audácia com que denunciava todos os ataques feitos à dignidade humana, de um modo especial, os ataques à família”. Por isso, o atual arcebispo de Braga sublinha que a melhor forma de resumir o “apostolado de D. Eurico é defini-lo como o «Advogado do Homem»: não somente por ser um doutorado em Direito Canónico, mas por ser um cristão que conseguiu rebater o legalismo ocasional, tão frequente entre nós, contrapondo-lhe um humanismo intemporal”, frisou na celebração do dia 21 de maio deste ano na Sé de Braga.
Em julho de 1964, D. Eurico Dias Nogueira foi eleito bispo de Vila Cabral (Moçambique). Na carta apostólica de nomeação «Christi Verba Sanstissima», o Papa Paulo VI escreve que antes da sagração episcopal, o nomeado deve “fazer tanto a profissão de fé”, como “o duplo juramento, na presença de qualquer bispo que esteja em comunhão connosco por uma fé sincera: juramento de fidelidade para connosco e para com esta Igreja Romana, e contra os erros dos modernistas”. (In: «Missão em Moçambique», D. Eurico Dias Nogueira, Vila Cabral, 22-12-1970).
Na carta do bispo eleito ao Papa, datada de 14 de julho de 1964, D. Eurico Dias Nogueira frisa que, “muito embora perturbado pela inesperada escolha, não posso deixar de me confessar penhorado pelo que ela significa de confiança na minha humilde pessoa”.
Numa missiva enviada de Roma (20-09-1964) para os diocesanos de Vila Cabral (Moçambique) o prelado dá a conhecer as dinâmicas dos trabalhos conciliares em “ordem a encontrar as soluções mais adequadas” para os problemas em estudo. Muitas destas soluções “terão profundas repercussões práticas na vida da Igreja, nomeadamente, na Igreja Missionária, pelos séculos fora”.
Que legado deixa D. Eurico Dias Nogueira nos terrenos pastorais onde andou? D. Jorge Ortiga, sucedeu ao prelado falecido neste mês de maio, considera que “aquela imagem da entrega do saco de sementes a todos os participantes no encerramento do último sínodo diocesano em 1997, é a melhor maneira de expressar esse legado”. E conclui: “Somos portadores dessa semente que ele nos deixou”. “Uma semente a plantar em cada paróquia, pois a revitalização da diocese passará pela revitalização das suas paróquias”, finalizou.
LFS