Francisco considera situação um desafio «profundo» à sua missão «como pastor»
Cidade do Vaticano, 13 jun 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco considera que as comunidades cristãs enfrentam hoje uma “perseguição mais forte do que aquela que lhes foi movida nos primeiros séculos da Igreja”.
Em declarações publicadas hoje pelo jornal vaticano L’Osservatore Romano, retiradas de uma entrevista ao jornalista Henrique Cymerman, o Papa argentino diz que a aflição dos cristãos em países como a Síria, o Iraque, o Paquistão ou a Nigéria é um desafio “profundo” à sua missão “como pastor”.
“Existem muitas coisas sobre as perseguições que não me parece prudente abordá-las aqui, para não ofender ninguém. Mas há lugares onde é proibido ter uma bíblia ou ensinar catequese ou usar uma cruz. Hoje há mais cristãos martirizados do que nunca, em qualquer outra época. Não é uma fantasia, está comprovado em números”, realça Francisco.
A repressão sobre os cristãos tem vindo a subir de tom em África e no Médio Oriente, depois da chamada “Primavera Árabe” que colocou em causa regimes políticos instalados e abriu espaço para a afirmação de diversos grupos radicais islâmicos.
Para o Papa, “a violência em nome de Deus é uma contradição” que já não deveria “caber no nosso tempo”.
“Em termos históricos, deve dizer-se que nós, cristãos também a praticámos” e hoje, “através da religião, chega-se por vezes a contradições muito sérias, muito graves”, complementa.
“O fundamentalismo”, continua Francisco, é um “exemplo” dessa contradição nos tempos atuais, presente em todas as três grandes religiões: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.
“Um grupo fundamentalista, mesmo que não mate ou maltrate ninguém, é violento. A estrutura mental do fundamentalismo é violência em nome de Deus”, frisa.
Ainda no âmbito da relação entre as religiões, mas aqui com um caráter político, social e cultural mais reforçado, o Papa abordou a sua recente visita à Terra Santa e também o momento de oração pela paz que teve lugar no último domingo no Vaticano, com os presidentes de Israel e da Palestina, Shimon Peres e Mahmoud Abbas.
De acordo com Francisco, a promoção da união entre israelitas e palestinianos “não foi um ato político” mas sim “um ato religioso” que pretendeu “abrir uma janela ao mundo”.
“Sentíamos que era algo que faltava. Aqui no Vaticano, 99 por cento das pessoas diziam que não iria acontecer e depois a percentagem de otimismo começou a crescer”, revelou.
LR/JCP