Vaticano: Papa enfrenta teste da Terra Santa em viagem que quer evitar instrumentalizações políticas

Elisabetta Piqué, jornalista e amiga de Francisco, projeta visita papal e possíveis consequências na região

Lisboa, 22 mai 2014 (Ecclesia) – A jornalista argentina Elisabetta Piqué, autora do livro ‘Francisco – Vida e Revolução’, considera que a primeira viagem do Papa à Terra Santa vai ser um teste numa região em que os seus gestos estão sujeitos a instrumentalizações políticas e religiosas.

“O Papa tem a consciência de ir a um lugar do mundo que é um barril de pólvora, onde as partes vão procurar instrumentalizar qualquer gesto que faça. Nesse sentido, ele mostra que não quer ser usado, desde logo com o formato da viagem”, explica à Agência ECCLESIA a antiga correspondente de guerra no Médio Oriente.

O programa oficial da primeira visita do Papa Francisco à Terra Santa, entre sábado e segunda-feira, tem passagens por Amã, Belém, Telavive e Jerusalém.

A agenda prevê 14 intervenções, entre homilias e discursos, e a assinatura de uma declaração conjunta com o patriarca ecuménico (Igreja Ortodoxa) de Constantinopla, Bartolomeu, assinalando os 50 anos do encontro entre o Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras, em Jerusalém.

Na Terra Santa, o Papa vai visitar, entre outros locais, o Santo Sepulcro, o memorial do Holocausto ‘Yad Vashem’, o Muro das Lamentações e a Esplanada das Mesquitas.

Francisco leva na sua comitiva rabino Abraham Skorka, de Buenos Aires, e um dignatário muçulmano, Omar Ahmed Abboud, secretário-geral do Instituto de Diálogo Inter-religioso da República da Argentina.

[[v,d,4618,]]Elisabetta Piqué recorda que já como arcebispo eram famosas “as amizades, as cerimónias que realizou, os encontros inter-religiosos” do então cardeal Bergoglio, que agora leva essa experiência para a Jordânia, Palestina e Israel.

Francisco telefonou-lhe menos de 24 horas após a eleição pontifícia, a 13 de março de 2013, um exemplo do que a autora apresenta como o “escândalo da normalidade” de um homem de Igreja que privilegia o contacto direto.

 “[O Papa] vai procurar exportar para uma terra – onde estive várias vezes – em que há muito ódio, exportar esse modelo argentino de convivência entre diversas religiões monoteístas. Penso que, nesse sentido, essa vai ser uma mensagem muito forte”, precisa a jornalista.

O itinerário sublinha a posição favorável à solução de dois Estados, Israel e Palestina, defendida pela Santa Sé e apresenta uma novidade histórica: pela primeira vez, um Papa vai entrar em território palestino sem ter passado previamente por solo israelita.

“Apesar de ser uma viagem, uma peregrinação eminentemente religiosa, vai ser uma visita com grande conteúdo político e na qual o Papa vai deixar de novo uma mensagem muito forte de paz”, conclui Elisabetta Piqué.

Esta será a segunda viagem fora da Itália de Francisco, após a visita ao Brasil em julho de 2013, e a quarta visita de um Papa à Terra Santa, após Paulo VI (1964), João Paulo II (2000) e Bento XVI (2009).

Francisco disse na audiência geral desta quarta-feira que a visita à Terra Santa será uma viagem “estreitamente religiosa”, para “rezar pela paz naquela terra que tanto sofre”.

A peregrinação evoca oficialmente o encontro entre o Papa Paulo VI e o patriarca ecuménico Atenágoras, de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), que teve lugar a 5 e 6 de janeiro de 1964 no Monte das Oliveiras em Jerusalém.

Este foi o primeiro encontro em mais de 500 anos entre os máximos representantes da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa, divididas há mais de nove séculos.

 

OC

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