José Miguel Sardica lamenta «mais nacionalismos e menos Europa»
Lisboa, 12 mai 2014 (Ecclesia) – O diretor da Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), José Miguel Sardica, disse hoje que as eleições europeias vão ser um “referendo à coesão e à moeda única”.
“A moeda única tem sofrido desde 2008. O projeto euro não esgota a Europa mas neste momento temos um continente que funciona a vários níveis do ponto de vista de integração económica, política e institucional. O que não se vê, e que deveria resolver todas as integrações, é o sentimento de uma cidadania europeia”, afirma o professor universitário à Agência ECCLESIA sobre as eleições que vão decorrer nos países europeus entre os dias 22 e 25 de maio.
José Miguel Sardica indica que atualmente há “mais nações e menos Europa”: “Pela forma como os países olham para a imigração, para a exclusão, para as dívidas, vemos uma Europa que, ao invés de ser feita de várias pátrias em consonância, é cada vez mais uma Europa retalhada entre nacionalismos exacerbados, que se fecham nos seus interesses, dividida entre quem cobra e quem deve”.
A campanha eleitoral para a eleições europeias, marcadas para 25 de maio em Portugal, tem hoje o seu início, e este deveria ser um tempo, segundo o diretor da FCH, marcado por “explicações sobre a importância do projeto europeu”.
“Era importante que na campanha eleitoral se fizesse um esforço para explicar ao eleitorado que o projeto europeu, com as dificuldades todas que tem, ainda é o melhor antídoto para resolver em conjunto questões que hoje têm de ter uma resolução integrada, supra nacional e europeia – dívida pública, integração económica, política de imigração, posicionamento da Europa perante zonas emergentes como a América ou Ásia, o diálogo com África, o diálogo da Europa com a Rússia”, precisa.
José Miguel Sardica sublinha que para os europeus terem uma voz “no século XXI” têm de “atuar em conjunto”, uma vez que “mundialização económica, os desequilíbrios económicos e as competições civilizacionais não se compadecem com as pequenas rivalidades e ciúmes que é de quem é que contribuiu para a Europa, quem tem mais a ver, ou quem teve mais”.
A Europa “concertada” e a “uma só voz” preconizada por José Miguel Sardica responde à falta de liderança europeia.
“Quando alguém de fora quer falar com a Europa não sabe bem a quem deve dirigir-se, mas sabe que tem de ir necessariamente à senhora Merkel. O poderio das potências europeias tem de ser um poder que não se identifique só com um país, até porque quando se fala em sentimento antieuropa não sei se é antieuropa ou anti senhora Merkel”, sustenta o professor.
A taxa de participação nas últimas eleições europeias, em 2009, foi de 36,77% dos cidadãos inscritos, com a abstenção a atingir os 63,2 %.
O diretor da FCH considera que Bruxelas, uma das sedes da Comissão Europeias, está longe psicologicamente dos portugueses, num quadro “este ano gravado com a imagem má de que o poder maldito por trás da intervenção internacional da troika está lá”.
O responsável assinala que os candidatos às eleições têm de “resistir à tentação de politizar a questão europeia para consumo interno”, procurar “relembrar a importância que o projeto europeu tem para a ausência de guerra generalizada há quase 70 anos” e mostrar que “a Europa ainda é uma rede de segurança sobretudo para os países onde a sustentabilidade económica é mais complicada, como é o caso de Portugal”.
José Miguel Sardica integra um grupo de colaboradores da ECCLESIA que semanalmente comenta a atualidade informativa cuja análise completa pode encontrar no canal 524995 da plataforma MEO.
LS