Lisboa, 25 abr 2014 (Ecclesia) – A revolução de 1974 encontrou os bispos “da Metrópole” reunidos em Fátima, para a sua reunião ordinária de abril, que se concluiria no dia 26.
No final dos trabalhos, em comunicado, os prelados aludiam aos “acontecimentos de caráter nacional”, do conhecimento público, afirmando que os mesmos não deixariam de “ter fundas repercussões na vida do povo”.
“Nestas circunstâncias, [os bispos] formulam o voto de que tais acontecimentos contribuam para o bem da sociedade portuguesa, na justiça, na reconciliação e no respeito por todas as as pessoas. Apelam para as virtudes cívicas dos católicos e de mais portugueses de boa vontade. E rezam a Deus pelo povo de Portugal”, pode ler-se.
Na primeira nota pastoral “a propósito dos acontecimentos de 25 de Abril”, publicada a 4 de maio, o episcopado convida a trabalhar “pela concórdia e pela paz”.
“Sentimos com todo o Povo os anseios e esperanças da hora presente e com ele nos empenhamos, dentro da nossa competência, na edificação de uma ordem social assente na verdade, na justiça, na liberdade, no amor e na paz”, assinala um texto de duas páginas, em que se recorda aos padres e religiosos que não devem ocupar cargos políticos e aos partidos que nenhum deles pode reivindicar para a sua opinião, “de modo exclusivo”, a autoridade da Igreja.
Após a breve declaração do episcopado de 4 de maio, chegou ao público uma “Carta Pastoral sobre o contributo dos cristãos para a vida social e política”, com data de 16 de julho de 1974.
Este documento, dividido em 59 pontos, aborda temas como a restruturação política do país, a crise económica, as “exigências da sã democracia”, a pluralidade partidária ou o marxismo.
A carta pastoral, publicada menos de três meses depois da revolução, referia que “o movimento de 25 de Abril pôs termo a um regime político de meio século e abriu ao povo português a possibilidade de um futuro marcado pelo ideal democrático”.
O documento concluía com uma palavra de “confiança no bom senso do povo português”, numa “encruzilhada histórica”.
Em julho de 1975, numa nota pastoral “sobre o momento presente”, os bispos afirmam que “a lgreja acolheu, com esperançosa expectativa, a revolução desencadeada em 25 de Abril” e sublinham que “os valores que de início a Revolução anunciava situavam-se, em grande parte, na linha do Evangelho”.
O episcopado colocava, no entanto, “sérias reservas ao processo revolucionário” tal como se tinha desenvolvido, confessando “a recear que se esteja a caminho dum totalitarismo indesejável”.
OC