Papa reforçou «primado» dos mais frágeis

Maria do Rosário Carneiro considera que Francisco trouxe o «enorme desafio» de as pessoas «voltarem a olhar umas para as outras»

Lisboa, 07 mar 2014 (Ecclesia) – A professora Maria do Rosário Carneiro diz que o Papa Francisco reforçou na Igreja Católica e na sociedade “o primado dos mais pobres, dos mais frágeis, dos excluídos”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a respeito do primeiro ano de pontificado do Papa argentino, a vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) destaca a capacidade de Francisco em “chamar” atenção para aquilo que muitas vezes a sociedade tem tendência para “esconder, excluir, pôr nas margens”.

Para a docente, o Papa trouxe com ele o “enorme desafio” de as pessoas “voltarem a olhar umas para as outras”, uma proposta que ganha ainda maior relevância num mundo atual marcado pelo “fenómeno do anonimato”.

“A globalização contribui também para este anonimato, no sentido em que vai contribuindo para uma postura de indiferença, porque é tudo tão imenso, tão insuscetível de ser tocado e controlado, que há a tendência para um fechamento”, realça Maria do Rosário Carneiro.

É nesta conjuntura que o antigo cardeal de Buenos Aires tem-se “evidenciado”, através da sua postura pessoal, da sua “franqueza” e “afabilidade”, dos seus “olhos que riem”, e através também da sua mensagem.

[[a,d,4467,Emissão 25-02-2014]]Para a docente, trata-se de “um Papa que fala a linguagem de todos”, que “não tem uma comunicação distante, hermética” mas “tornou-a acessível, despiu-a de roupagens excessivamente formais, cansativas inclusive para um mundo que hoje tem pouco tempo para ficar a descodificar o que se pretende dizer”.

Nascido no continente americano, mas filho de imigrantes italianos, a origem “mestiça” do Papa Francisco desafia à “recuperação da diversidade humana”, sublinha a antiga presidente da Rede Europeia de Comissões Parlamentares para a Igualdade de Oportunidades.

Por outro lado, habituado a contactar com as populações desfavorecidas dos recantos mais esquecidos da América Latina, o Papa argentino tem batalhado permanentemente para a necessidade de mudar o atual sistema socioeconómico, marcado por “uma proposta que não tem rosto humano, porque deriva de premissas financeiras”.

Para Maria do Rosário Carneiro, a comunicação do Papa tem sido “uma clara interpelação” para a necessidade de recuperar a verdadeira noção de “desenvolvimento, que perdeu rosto, ganhou em dimensão quantitativa, numérica, mas perdeu em dimensão qualitativa, humana”.

“É evidente que se houver crescimento económico pressupõe-se que haverá mais bem-estar, mas é preciso que este desenvolvimento tenha a ver com o que é o bem-estar, e por vezes os indicadores que se querem de desenvolvimento económico não são compatíveis com as necessidades de bem-estar”, reforça a professora.

No que toca à Igreja Católica, a tónica tem estado assente na necessidade de uma estrutura mais “humana e próximas das pessoas”, de uma Igreja “que seja menos caritativa mas mais interventiva, mais capacitadora das pessoas”.

A vice-presidente da CNJP considera que a realização de um Sínodo dos Bispos dedicado à realidade das famílias, no próximo mês de outubro, está englobada nesta busca de “aproximação” às pessoas, nas suas mais diversas circunstâncias.

SN/JCP

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