Rescaldo de uma efeméride

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Comemorou-se, no passado domingo, o Dia da Universidade Católica Portuguesa. Se aqui refiro, em jeito de rescaldo, o acontecimento é porque me senti verdadeiramente tocado pela mensagem da respectiva Reitora: um texto breve, de pés na terra quando exprime compromisso com presente e olhos erguidos no desejo de inspirar o futuro.

O espírito que anima o texto é mobilizador. Porque, se reconhece dificuldades que seria insensato ignorar, não encontra aí desculpas para escolher uma esquina por onde não passe o vento, em cujo sopro muita gente não encontra qualquer benefício: nem polinização, nem energia eólica, nem farinha da próxima fornada…

”Inspirar o futuro”. Eis um bom lema para quem não se queira prisioneiro de uma prudência que não passa de medo disfarçado, alergia ao risco e demissão perante a obrigação de abrir caminhos; para quem não queira ser desses treinadores do autocarro, que sobem ao relvado para empatar ou perder por poucos… Sim; as grandes equipas assumem outra postura: gostam de pisar o meio campo alheio, numa atracção assumida pela grande área e pela baliza – e perdoem-me a metáfora futebolística.

Quando, há dias, recebeu uma delegação da universidade norte-americana de Notre Dame, o Papa Francisco resumiu assim a missão de uma universidade católica:

«mostrar a harmonia entre fé e razão» e «evidenciar a relevância da mensagem cristã para uma vida humana vivida em plenitude e autenticidade».

Sintonizada com esta perspectiva, em declarações à Ecclesia, a professora Maria da Glória Garcia defendeu a necessidade de contrariar o défice ético na formação académica, de modo que a componente humana não seja esquecida pelo acentuar das competências técnicas.

Há um esforço a levar por diante neste campo: «conduzir o homem para a transcendência», «ensinar-lhe a percorrer de novo o caminho que parte de sua experiência intelectual e humana, para desembocar no conhecimento do Criador, utilizando com sabedoria as melhores aquisições das ciências modernas, à luz da recta razão» – como pede o Conselho Pontifício da Cultura. É que, como o mesmo Conselho

justifica, «embora a ciência, pelo seu prestígio, impregne fortemente a cultura contemporânea, ela não consegue apreender aquilo que constitui na sua substância a experiência humana, nem a realidade mais intrínseca das coisas».

Mais uma vez: este caminho não se percorre sem coragem, sem a capacidade profética de olhar à volta, ouvir as perguntas que as circunstâncias colocam e discernir linhas de água ainda porventura pouco notadas à superfície.

Também não se percorre sem o compromisso de mestres e discípulos a quem o sociólogo Victor Pérez Diaz, na festa de S. Tomás de Aquino na universidade espanhola de San Dámaso, pediu que se considerem «membros de uma comunidade de buscadores da verdade».

Indubitavelmente, uma nobre tarefa!

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