Contrariar uma economia «de resíduos e sobras»

Pensamento económico e social de Papa Francisco esteve hoje em análise na Faculdade de Letras, em Lisboa

Lisboa, 06 fev 2014 (Ecclesia) – O presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’ Oliveira Martins, o político Francisco Louçã e o jornalista Francisco Sarsfield Cabral comentaram hoje em Lisboa “a mensagem económica e social do Papa Francisco”.

Numa conferência na Faculdade de Direito, organizada pelo Centro de Investigação do Direito Europeu, Económico, Financeiro e Fiscal, Guilherme d’ Oliveira Martins salientou o apelo do Papa para que a sociedade diga “não a uma economia de exclusão, de resíduos e sobras, a uma economia que mata”.

Este alerta, contido na exortação Evangelii Gaudium, “tem de ser lido não à luz de uma análise imediatista ou demagógica”, apontou o também presidente do Centro Nacional de Cultura.

Para aquele responsável, a reflexão do Papa argentino procura contrariar a “nova idolatria do dinheiro”, como que um novo “bezerro de ouro que a sociedade voltou a construir e a adorar”.

Ao mesmo tempo que dá uma alternativa, a partir dos valores do Evangelho, Francisco sublinha a necessidade de rejeitar qualquer tipo de “pessimismo estéril”, a noção de que “tudo é inexorável, tudo é uma fatalidade e que não vale a pena fazer nada”.

“O Papa vem dizer não a encontrarmo-nos numa terra de ninguém, mas sim a encontrarmo-nos num lugar onde nos respeitemos mutuamente e sobretudo possamos garantir que a dignidade da pessoa humana, o bem-comum, a subsidiariedade, a solidariedade não sejam palavras vãs”, concluiu.

Francisco Louça destacou “a clareza” com que o Papa tem abordado a atual conjuntura socioeconómica e a consciência que tem do alcance da sua figura mediática e o contributo que os seus “gestos” podem desempenhar na mudança de paradigma.

O político lembrou a viagem que Francisco realizou à Ilha de Lampedusa, em Itália, para alertar a opinião pública para a necessidade de atender ao problema dos milhares de imigrantes africanos que têm procurado naquela região uma porta de entrada para a Europa, muitos com o custo da própria vida.  

“Este Papa conhece o significado dos sinais no mundo de hoje, sabe o que é a abertura de um telejornal, por isso não é um Papa triste mas alegre, luta por esses sinais e esses gestos e não encontramos nele outro calculismo que não seja a sinceridade”, apontou.

O antigo coordenador do Bloco de Esquerda salientou ainda a forma como Jorge Mario Bergoglio, particularmente na exortação “Evangellii Gaudium”, analisa a relação entre a Igreja e o Estado.

“A relação como é situada neste texto refere-se ao direito dos Estados controlarem a economia e a frase aliás é extraordinariamente clara, o direito dos Estados encarregados de velar pela tutela do bem comum, isto tem um enorme significado político”, considerou.

O jornalista Francisco Sarsfield Cabral sustentou que o Papa Francisco tem-se empenhado em retirar a Doutrina Social da Igreja do “esquecimento”, uma vez que ela “não tem sido levada a sério” pela sociedade e inclusivamente pelos “próprios católicos”.

“Bento XVI na encíclica Caritas in Veritate apela a uma nova e profunda reflexão sobre o sentido da economia e dos seus fins, bem como uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento. Julgo que este apelo foi pouco ouvido”, exemplificou.

A conferência sobre “a mensagem económica e social do Papa Francisco” contou com a presença do patriarca de Lisboa, D. Manuel, que frisou a capacidade de Jorge Mario Bergoglio em “colocar o dedo na ferida” de uma sociedade marcada pela exclusão e desigualdade.

JCP

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Agência ECCLESIA

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