Missionário português fala de nação com condições para ter futuro
Lisboa, 24 jan 2014 (Ecclesia) – O novo provincial dos Missionários Combonianos, padre José Vieira, trabalhou durante 7 anos no Sudão do Sul, um país que considera “viável” e “com futuro” lamentando por isso que esteja ser destruído por uma guerra civil.
O conflito que se arrasta desde 15 de dezembro é “lamentável” porque afeta “um país que, se for explorado com uma atenção e preocupação pelo bem comum, tem futuro”, disse à Agência ECCLESIA.
Segundo o missionário português, apesar de todos os problemas, o Sudão do Sul é um país viável “porque tem uma gente fantástica e a primeira riqueza de um país é o seu povo” e porque possui “um número considerável de riquezas naturais, a começar pelo petróleo, a água, a fertilidade do solo, as florestas”.
“O confronto político tornou-se também um confronto tribal o que levou o conflito a espalhar-se a todo o país, num mês de guerra há cerca de 10 mil mortos, cerca de 413 mil deslocados e mais de 73 mil refugiados nos países vizinhos como o Quénia, o Uganda e a Etiópia” lamenta o padre José Vieira.
Os representantes dos católicos no Sudão do Sul têm feito apelos e documentos a pedir “que o conflito termine, que se tratem os problemas políticos porque os cidadãos não têm culpa do que se está a passar” e as Igrejas têm-se unido para “tentar ajudar e dar condições básicas de vida aos deslocados, vítimas desta guerra civil”.
Para o padre José Vieira, o principal problema do país é a corrupção que passa impune como por exemplo no caso dos “primeiros três ministros das Finanças, que foram os três demitidos por corrupção, mas nenhum foi julgado”.
O Sudão do Sul é desde 2011 o país mais novo do mundo depois de durante 50 anos ter lutado pela independência, “uma luta que surgiu porque Cartum (capital do Sudão) tinha uma atitude muito hegemónica em relação ao Sul”.
[[v,d,4403,Entrevista ao padre José Vieira, provincial dos Missionários Combonianos, que trabalhou nos os últimos 7 anos no país mais novo do mundo]]O Sudão “era o maior país do mundo: a parte norte era árabe e muçulmana; a parte do sul era de maioria negra e cristã”, o que criou muitas guerras civis “que provocaram mais de 3 milhões de mortos”, explica o missionário comboniano.
Este era um país igual, porque os “árabes tratavam os negros como escravos”, por isso depois da independência “foi muito bonito viver no Sudão do Sul, nos primeiros seis meses não havia tensões nem conflitos”.
Em janeiro de 2012, no entanto, começaram os problemas quando o Sudão e o Sudão do Sul começaram a discutir os termos da importação do petróleo”, conta o padre José Vieira.
“A infraestrutura para exportar o petróleo está toda no Sudão e este começou a colocar exigências; o Sudão do Sul parou a produção do petróleo criando uma crise enorme” e uma estagnação do resto do comércio e serviços do país.
Entretanto foi acordado a divisão dos valores da venda do petróleo e podia ter-se voltado à paz, mas agora o “Sudão do Sul vive uma guerra política entre o partido do governo e o partido da oposição”, assinala o sacerdote.
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