Aprender a ser padre em braile

Braga, 07 nov 2013 (Ecclesia) – Tiago Varanda está no seminário há dois anos e assume como todos os que se preparam para o sacerdócio, em Braga, compromissos como lavar a loiça no bar ou ler leituras na missa, com uma particularidade: é cego.

A ideia de ser padre surgiu de início com um receio, com o medo do “impedimento”, mas depressa se convenceu de que “um sacerdote cego, com algumas adaptações, pode fazer o que qualquer sacerdote faz”.

Natural de Lamego, Tiago Varanda nasceu em 1984 com um glaucoma congénito; perdeu a visão progressivamente e aos 16 anos, já dependia da Micha, a cadela-guia que o acompanha desde essa altura em todos os momentos do dia, também os que vive, agora, no Seminário Conciliar de Braga.

Cada dia começa com a rotina da manhã que não é apenas a pessoal, mas também a da cadela porque é preciso “escová-la, ir com elas à rua, dar-lhe alimentação”, depois é companhia constante desde as primeiras orações.

Antes de entrar no seminário, Tiago já tinha o seu futuro “encaminhado”: a irreversível perda da visão desafiou-o a aprender, desde cedo, outras formas de leitura e de relacionamento no quotidiano.

Frequentou o curso de História, em Viseu, e começou a dar aulas em várias escolas, também na região de Braga.

É neste percurso que a questão vocacional surge e, “aos poucos”, foi percebendo que era chamado ao sacerdócio.

“Se me sentia capaz de ser professor, não me parecia que a minha limitação física me impedia de exercer o sacerdócio”, afirma.

No Seminário Maior, em Braga, sentiu-se e sente-se “muito bem acolhido”, dos colegas e formadores diz que são “inexcedíveis” na ajuda que prestam.

“Apesar da limitação física, dou o que posso à comunidade”, refere Tiago Varanda, acrescentando que em grupo todos fazem a experiência da “aceitação mútua” de qualidade e defeitos, também os de ordem física.

Como todos os seminaristas, frequenta as aulas na Faculdade de Teologia, em Braga, e participa na vida comunitária do Seminário, onde o relacionamento e os diálogos com os colegas e os formadores acontecem de forma “muito natural”.

Adaptações, claro, algumas foram necessárias: para a formação académica, de que já era portador e que passam pelo computador com sistema de voz que permite acesso auditivo a qualquer texto e conteúdos em braile; ao nível específico da formação no Seminário, nomeadamente a participação na oração em comunidade, Tiago Varanda está a imprimir a Liturgia das Horas em braile, para que se possa integrar ainda mais no grupo.

No futuro, Tiago considera que o facto de ser cego não o vai impedir de assumir a tarefa pastoral “que o bispo pedir”. “Estou aberto a qualquer coisa”.

“É óbvio que vou precisar de algumas adaptações, mas creio que não será nada de extraordinário. Algum tipo de pastoral será mais adaptado de acordo com a minha limitação física. Mas tudo isso será tido em conta”, afirma.

PR

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top