Na inauguração da 2ª sessão do “acontecimento mais importante do século XX para os católicos: II Concílio do Vaticano”, o Papa Paulo VI fez um pedido, a 29 de setembro de 1963, que ficou célebre na história: «Igreja, o que dizes de ti mesma?».
Na inauguração da 2ª sessão do “acontecimento mais importante do século XX para os católicos: II Concílio do Vaticano”, o Papa Paulo VI fez um pedido, a 29 de setembro de 1963, que ficou célebre na história: «Igreja, o que dizes de ti mesma?».
Para D. Jorge Ortiga, um concílio surge como “uma porta aberta a uma nova forma de estar, pensar e agir, abrindo uma nova era de propostas, transformações e adaptações” (In: «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», Lisboa, Paulus Editora). De um modo muito sintético, se o Concílio de Trento reflectiu genericamente sobre os bispos e sacerdotes, e o Concílio Vaticano I sobre o Papa (primazia e infalibilidade papal), “pela lógica, faltava agora um concílio sobre o laicado”, escreveu o prelado de Braga na obra citada.
Na sessão do dia 23 de outubro de 1963, “singularmente viva”, (Henri Fesquet; «O Diário do Concílio», volume I, Lisboa, Publicações Europa-América). As intervenções foram “mais vigorosas e mais precisas” do que habitual e foi “incontestável que o tema dos leigos estimulava a atenção dos bispos.
Insistindo sobre as funções dos leigos, o II Concílio do Vaticano marca o “fim de uma longa época durante a qual a Igreja foi tentada a evadir-se da vida, a confundir a acção com exercícios escolásticos e as realidades com ficções jurídicas ou sistemas”, Henri Fesquet. Após o cardeal Caggiano, arcebispo de Buenos Aires (Argentina), o cardeal Suenens (Malines-Bruxelas) abriu “o fogo com uma intervenção enérgica e vivamente aplaudida” e visava, directamente, o cardeal Ruffini. A Igreja, retorquiu o prelado belga, é “o lugar dos carismas” e está “fundamentada” como disse São Paulo. E insistiu: “A Igreja tem uma estrutura carismática” e deve respeitar “a liberdade dos filhos de Deus”.
Ao terminar, o cardeal Suenens pede para que os auditores leigos do concílio “desempenhem um papel activo”, que “o seu número seja aumentado e que as mulheres, que constituem, 50% da humanidade, e as religiosas, cerca de um milhão e meio, não estejam ausentes do Vaticano II”, lê-se na obra citada.
Se o sonho gerou concretizações, passados 50 anos, este magno acontecimento convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, é um “projecto inacabado”, sublinha D. Jorge Ortiga. As resistências continuam “a ser imensas e a caracterização da sociedade hodierna dificulta uma maior ministerialidade, por causa da ausência de tempo e pelas exigências competitivas da consciência profissional, onde se confunde a verdadeira felicidade com a avidez do ter”, escreveu arcebispo de Braga em «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», Lisboa, Paulus Editora.
Nesta linha de ideias e num momento de repensar a pastoral, a Igreja, no mundo e em Portugal, o caminho percorrido até agora tem necessariamente de criar responsabilidades novas, “que passarão pela atitude de formação a fazer-se para que a novidade não tenha envelhecido passados 50 anos”.
Os documentos conciliares não se podem “fechar nas prateleiras de um passado recente ou ser usados parcialmente quando convém. “Só assim é que teremos crédito para dizer à Igreja o que ela pensa sobre si mesma”, conclui D. Jorge Ortiga.
LFS