Ano após ano o cenário repete-se: caixas metálicas amarelas surgem diante dos transeuntes, mais ou menos surpreendidos pela sua presença, levadas nas mãos de voluntários, escuteiros ou alunos das escolas católicas, para pedir uma contribuição em favor da Caritas. Todos os anos o peditório para a Caritas suscita as mais diversas reacções – nem sempre agradáveis, que os peditórios são muitos – e o contacto de rua desperta nos responsáveis diocesanos a consciência de que o trabalho de sensibilização para o seu trabalho ainda é muito grande. “A imagem da Caritas que se passa para a população em geral não é credível, porque ainda não se associa a entidade à diversidade de acções que ela executa. A nossa acção é feita, muitas vezes, na penumbra, numa entrega que não olha a recompensas”, constata Carlos Alberto Oliveira, da Diocese do Algarve. Os responsáveis diocesanos do Algarve, Coimbra, Funchal, Porto e Viseu explicaram à Agência ECCLESIA que o dinheiro obtido com o peditório é utilizado, predominantemente no que denominam “actividade diária”. Essa actividade inclui as mais variadas situações – rendas de casa, operações, medicamentos, alimentação, material ortopédico, atendimento domiciliário, atendimento social e jurídico aos imigrantes, chegando ao ponto “de nos substituirmos às autoridades oficias na resolução de algumas situações”, revela um dos nossos entrevistados, referindo-se ao caso dos imigrantes ilegais, sem direito a apoios por parte da segurança social. Há algumas iniciativas específicas para o ano 2003, como é o caso da criação de um fundo de “acolhimento e encaminhamento” dos imigrantes – que nas primeiras semanas são extremamente vulneráveis – na Diocese do Porto, como adianta António José Silva. No caso específico, a Diocese é rica em instituições de carácter sócio-caritativo a nível local, por isso a “Caritas no Porto pode orientar-se para outro tipo de perspectivas, mais abrangentes”, explica. O problema, muitas vezes, é que os resultados dos peditórios são muito fracos. José Pereira Borges, da Diocese de Viseu, assume que “o resultado do peditório e do ofertório fica exclusivamente para a acção social da Diocese; temos um quadro de 25 pessoas em permanência nos nossos projectos– entre sociólogos, psicólogos e assistentes sociais – e o dinheiro não chegaria nem para pagar aos funcionários.” A Caritas Madeira dá o mote para se superar essa dificuldade: “sensibilizar as pessoas para a exclusão social, e dar uma imagem mais actualizada da Caritas”. Essa nova imagem é, aliás, uma preocupação de todos os entrevistados. Carlos Neves, da Diocese de Coimbra, afirma que é fundamental que “a acção social da Igreja seja assumida de forma organizada, não dependendo da boa vontade e iniciativa de pessoas isoladas”. O responsável da Diocese de Viseu acrescenta que é necessário “passar uma imagem nova da Caritas, mais virada para a inserção das pessoas, atenta aos problemas de exclusão social e da pobreza” que se concilie com o surgimento de “novas estratégias para conseguir fundos, de modo a que a acção social funcione”. Enquanto não surgem esta novas estratégias, a contribuição de todos é indispensável. “O nosso desejo é o de orientarmos as pessoas para soluções definitivas, não criando dependências. Isso só será possível quando houver capacidade para encontrar respostas estruturais e não pontuais”, conclui António José Silva.
