Portugal: Democracia tem de evitar riscos de implosão

Diretor da Faculdade de Ciências Humanas da UCP projeta próximo ato eleitoral

Lisboa, 20 set 2013 (Ecclesia) – O diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (UCP) disse à Agência ECCLESIA que o país está “superficialmente democratizado” e é necessário evitar riscos de implosão do regime.

“Um regime democrático cai por várias razões, como uma revolução, um golpe de Estado, mas também cai porque implode: todos os regimes em Portugal, nos séculos XIX e XX, não caíram por grandes oposições, por grandes golpes de Estado”, refere José Miguel Sardica, historiador e professor universitário.

Sublinhando o “fosso” que existe entre eleitorado e representantes, o especialista admite que seria “estranho” ter uma situação em que a percentagem da abstenção fosse “superior a todos os outros votos”.

Segundo o universitário, a abstenção nas eleições em Portugal mostram que “qualquer coisa que não está bem”, apontando o dedo a uma classe política “exígua, endogâmica”.

“O monopólio dos circuitos políticos sobre as eleições é um dado histórico, pelo que é difícil que seja feita a renovação com independentes, com gente não ligada aos círculos já existentes”, observa.

O autor fala num discurso político “muito imediatista”, condicionado pelo cenário macroeconómico e pela pouca capacidade de mobilização da sociedade civil.

“A democracia não resolveu um país dúplice: iletrado, pobre e imóvel no Interior; letrado, urbano, mais ágil e aberto ao mundo no Litoral. O Estado Novo agravou essa separação, conscientemente, e a democracia ainda não resolveu isso”, sublinha.

O diretor da Faculdade de Ciências Humanas da UCP considera que as Câmaras Municipais deixaram de assumir o papel de “intermediárias” e passaram “muito mais a reproduzir os vícios do sistema político central junto das pessoas”.

“Foram também a forma que os poderes políticos numa Lisboa macrocéfala tiveram para se relacionar com um país superficialmente democratizado”, acrescenta.

José Miguel Sardica fala ainda dos “falsos independentes” nas autárquicas, a que se refere como “políticos do regime, do sistema, que por qualquer razão pessoal se zangaram com a sua cor”.

O responsável observa, por outro lado, que na campanha eleitoral pode ser “tentador instrumentalizar a religião, a Igreja”, quando o discurso político não consegue chegar às pessoas e que o mesmo acontece com outras situações, como “quando o autarca oferece mais um estádio, mais uma obra pública”.

OC

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