Início do Ano Pastoral na Diocese do Porto

Homilia do administrador apostólico, D. Pio Alves

1. Como vem sendo habitual, com a celebração, neste dia, da solenidade da Dedicação da Catedral damos início, formalmente, ao novo ano pastoral.

Nesta ocasião, vivemos a importante particularidade de estarmos na expetativa da nomeação, por parte do Santo Padre, de um novo Bispo para a nossa Diocese. Aguardamos que isso aconteça num tempo tão breve quanto possível.

Entretanto, a vida da Diocese – das pessoas e das comunidades que a integram – não para. Não é tempo, contudo, de assumir ou propor iniciativas de fundo que alterem significativamente o rumo pastoral dos últimos anos. Mas é sempre tempo de, entre todos, responder com generosidade e responsabilidade redobradas ao que, no dia-a-dia, a Igreja e a Sociedade nos vão solicitando. É tempo também de sublinhar alguma nota de continuidade que ajude a centrar os programas pastorais parcelares das comunidades e dos serviços.

2. Mas, antes disso, e como alicerce de quaisquer considerações, escutemos no nosso coração a Palavra de Deus.

Como não podia nem pode deixar de ser, o centro é Cristo: Jesus Cristo que ensina e atua (Lc 6, 6-11); Cristo que Paulo anuncia (Col 1, 24-2, 3).

“Jesus entrou numa sinagoga a um sábado e começou a ensinar”. Curiosamente, o texto de Lucas não refere se Jesus Cristo fez um discurso temático. Relata tão só um gesto de misericórdia e as palavras que o acompanham. Ensina, assim, que as obras estão antes que as palavras; que as leis não subjugam as pessoas; que o sábado (o domingo) é, por excelência, o dia da bondade, da proximidade, da misericórdia. Ontem como hoje, como ao longo dos séculos, haverá, contudo, quem não entenda estas prioridades: “os escribas e fariseus ficaram furiosos e começaram a falar entre si do que haviam de fazer a Jesus”.

Mas nada disto pôde (nem pode) impedir a atenção ao gesto de súplica que se encerra na mão estendida. É igual a mão que fica à vista de Jesus Cristo e dos escribas e fariseus; mas são bem diferentes os olhos que a veem. “Tu, que crês ter a mão sã, comenta Santo Ambrósio (Ambrósio, Exposição sobre o Evangelho de Lucas, 5, 40), cuida-te de que a avareza e o sacrilégio não a contraiam. Estende-a com frequência: estende-a para o pobre que te implora; estende-a para ajudar o próximo, para levar socorro à viúva, para arrancar da injustiça o que está submetido a uma vexação iníqua; estende-a para Deus pelos teus pecados. Tal como se estende a mão, assim é como se cura”.

É este Cristo que Paulo anuncia, sem aceção de pessoas, e de quem é servidor na Igreja: “Cristo no meio de vós, esperança da glória”. “Luto, ouvíamos também de S. Paulo, para que os seus corações sejam confortados e, estreitamente unidos na caridade, alcancem em toda a sua riqueza a plenitude da inteligência, o conhecimento do mistério de Deus, que é Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”.

3. Com o pretexto de reflexões aprofundadas ou de aplicações pastorais precisas perdemo-nos, demasiadas vezes, no que é acidental. Transformamos o cristianismo numa ideologia e a sua prática num código que, usando o referencial do relato do evangelho de hoje, proíbe as curas ao sábado. Mas, na realidade, o que se nos pede é algo bem diferente. Com efeito, escreve Bento XVI na Porta Fidei ( Bento XVI, Porta Fidei, 11), “repassando as páginas (do Catecismo da Igreja Católica), descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja”. “Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só nele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro” (Ibidem, 15).

Sem querer fugir à questão da necessidade ou da conveniência de um programa, este deve ser sempre o seu núcleo imprescindível: Jesus Cristo no centro da nossa fé e, por isso, da nossa vida; Jesus Cristo no centro do nosso ministério, da nossa mensagem.

4. Isto não obsta, contudo, a que, com as limitações que o realismo da nossa situação sugere, privilegiemos alguma dimensão operativa concreta. E o razoável é o reforço da continuidade.

Vimos, em tempos mais próximos, da Missão 2010: em palavras do Senhor D. Manuel, “tempo largo e pleno para que a Diocese do Porto e cada uma das suas comunidades se apliquem sobremaneira no anúncio evangélico, com ‘novo ardor, novos métodos e novas expressões’”(D. Manuel Clemente, De Deus para Deus, no sacerdócio de Cristo, 5, in Igreja Portucalense 7, 20 (2009) 62). A sua concretização deu realce à unidade da Diocese na sua diversidade.

Na sequência da Missão 2010, a vivência do Ano da Fé foi ocasião para um programa diocesano, em que a dimensão celebrativa esteve centrada nas vigararias. Partindo de um esquema-base comum, as programações locais espelharam uma sã diversidade de potencialidades e necessidades. Percebeu-se mais claramente que essa unidade pastoral (no sentido mais amplo da expressão) configura uma realidade sociológica e pastoral cujas potencialidades têm que ser mais e melhor aproveitadas.

Não se chega aí, em primeiro lugar, pela circunstância, em agravamento crescente, da escassez de presbíteros: ainda que também. Sem pôr em causa a realidade jurídica das paróquias, torna-se cada vez mais evidente – por razões diferentes em ambiente urbano e em ambiente rural – que as fronteiras geográficas são, e podem ser, cada vez mais fluidas. Torna-se cada vez menos justificada a dispersão de energias e as correrias improdutivas a que estão submetidos clérigos e leigos em ações de formação e celebrativas. Cada caso é um caso e cada situação é uma situação. Mas todas as necessidades e projetos pastorais deverão ser olhados, cada vez mais, com ousada prudência, num horizonte mais amplo, mormente no horizonte vicarial. Repito: a vivência vicarial do Ano da Fé foi, também neste aspeto, um magnífico ensaio e concretização de possibilidades.

Este é também um desafio às estruturas diocesanas no seu serviço às diferentes comunidades.

A celebração litúrgica da solenidade da Dedicação da Catedral recorda-nos, com palavras de S. Paulo (Ef 2, 19-22), que o alicerce é Jesus Cristo e todos nós estamos integrados nessa construção. Como “morada de Deus”, teremos que ser, na Igreja e na Sociedade, referência viva da perene novidade do Evangelho.

5. Uma palavra final aos professores de Educação Moral e Religiosa Católica. Sei que, profissionalmente, não passais por momentos fáceis. Quase ninguém passa por momentos fáceis!

Este desafio é também para vós. Sem interferir na vossa legítima autonomia, contamos com a vossa conexão com as estruturas vicariais.

Confiamos os frutos deste novo ano pastoral à intercessão da Santíssima Virgem, Nossa Senhora da Assunção, Mãe de Jesus Cristo e nossa Mãe.

Sé do Porto, 09 de setembro de 2013

+Pio Alves, Administrador Apostólico

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