Aveiro: Debate político e social carece de «uma visão mais larga, como a do bem comum», diz bispo emérito

D. António Marcelino salienta que o clima de conflito que marca a democracia portuguesa «faz pensar» numa nova «ditadura»

Aveiro, 29 ago 2013 (Ecclesia) – O bispo emérito de Aveiro considera que a democracia portuguesa ainda tem um longo caminho para andar, num país onde as relações políticas e sociais limitam-se muitas vezes a ter como intervenientes “acusadores” e “acusados”.

“A ligeireza com que nas relações se espezinham direitos fundamentais e se alimentam privilégios sociais, a crescente dificuldade de se reconhecerem deficiências graves na legislação, no governo e na oposição, o facto de pensar que se sabe tudo e os outros são ignorantes e incapazes, faz pensar que estamos de novo em clima de ditadura, onde nem todos têm lugar”, lamentou hoje D. António Marcelino.

Na edição mais recente do semanário Correio do Vouga, o prelado deixa um conjunto de interpelações “à gente do poder, aos dirigentes partidários, sindicais e agentes da comunicação social” e também “ao povo anónimo”, numa altura em que se aproximam as eleições autárquicas, marcadas para 29 de setembro.

Para os que regem a sua conduta apenas pela crítica, com o “orgulho” de quem “opina sem apelo” e ataca com “facilidade” aqueles que têm “opiniões e opções políticas e sociais próprias”, o bispo emérito recorda que em todas as pessoas existem “grãos de trigo e grãos de joio”.

“Quando se conhecem os acusadores, a viola que de há muito tocam e a sua folha de comportamentos cívicos, e que agora apanharam a onda que lhes dá realce e encobre misérias, sente-se o farisaísmo corrente de quem engole os seus camelos e filtra os mosquitos dos outros”, acrescenta.

Referindo-se depois ao ambiente de conflito que tem marcado o debate político nacional, D. António Marcelino salienta que “condenar alguém como se fosse incapaz de melhorar e até de reparar o que fez de menos bom” é cair na “hipocrisia” e no “orgulho cego”.

No mesmo mal incorre quem procura “colocar a linha da moralidade a separar direitas e esquerdas” já que “a história” tem mostrado “como políticos veneráveis de ontem baralham agora as mãos, segundo interesses pessoais e partidários”.

“A verdadeira democracia”, preconiza o bispo aveirense, “exige aprendizagem e esfoço diário, em que se aprende, de modo humilde, a procurar e a viver a verdade, a respeitar as diferenças, a apreciar o bem de cada um, a olhar o bem de todos acima de proveitos pessoais de qualquer ordem, a dialogar, sem rótulos nem preconceitos”.

D. António Marcelino conclui a sua reflexão pedindo aos diversos intervenientes sociais que adotem “uma visão mais larga, como a do bem comum” e contribuam para a construção de uma sociedade mais solidária e inclusiva.

“A sociedade é um corpo que, nas suas alegrias e dores, nos seus êxitos e fracassos, toca a todos e não deixa ninguém indiferente”, sustenta o prelado, lembrando ainda a importância de uma ação política mais aberta à sociedade civil.

“Em Portugal não falta gente séria e válida, tanto nos meios urbanos como nos rurais, empenhada na construção de uma sociedade democrática. Ouçam essa gente”, exorta.

CV/JCP

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