Papa Francisco entrevistado no Brasil

Francisco reafirma exigência de «simplicidade» e explica o “drama da fuga” de católicos no Brasil com a falta de proximidade

Rio de Janeiro, Brasil, 29 jul 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco concedeu a primeira entrevista do seu pontificado, na qual reafirmou a sua exigência de “simplicidade” e de uma Igreja próxima das pessoas.

“Deus pede-nos neste momento maior simplicidade”, declarou à Globo, durante a viagem ao Brasil, que se concluiu este domingo.

A entrevista foi transmitida após a partida do Papa para Roma, após uma visita de sete dias ao país lusófono.

“Penso que temos de dar testemunho de uma certa simplicidade – eu diria, inclusive, de pobreza”, observou.

Francisco foi questionado sobre a diminuição da percentagem de católicos no Brasil e levantou “uma hipótese” para explicar o “drama da fuga”: a falta de proximidade.

“Para mim é fundamental a proximidade da Igreja, porque a Igreja é mãe”, explicou.

O Papa adverte que “quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só comunica com documentos, é como uma mãe que comunica com o seu filho por carta”.

“A mãe beija, cuida, acaricia e alimenta (o seu filho). Não por correspondência”, acrescentou.

Francisco comentou os casos de fuga de documentos reservados (vatileaks), as questões ligadas ao chamado Banco do Vaticano e outros “escândalos”.

“A Cúria Romana sempre foi criticada”, começou por dizer, elogiando os “muitos santos” que trabalham nos organismos centrais do Vaticano e admitindo que “isso não se vê”.

“Ouve-se o ruído dos escândalos. Agora estamos com um, um escândalo de transferência de 10 ou 20 milhões de dólares de um monsenhor [Nunzio Scarano] . Belo favor faz esse senhor à Igreja, não?”, assinalou.

O primeiro Papa latino-americano da história da Igreja recordou que antes do conclave os cardeais falaram “claramente dos problemas”.

“Também se falou se certas reformas funcionais que era preciso fazer”; precisou.

Nesse sentido, Francisco adiantou que a comissão de oito cardeais representantes dos cinco continentes que nomeou para o aconselharem no governo da Igreja e também para estudarem o documento que regulamenta a Cúria Romana vai reunir-se pela primeira vez entre 1 e 3 de outubro.

“Não acredito que saiam daí decisões definitivas, porque a reforma da Cúria é muito séria e as propostas, se são muito sérias, precisam de amadurecer”, adiantou.

Francisco estima que sejam necessárias “mais duas ou três reuniões” antes de ser visível qualquer reforma.

“A Igreja tem sempre de ser reformada, para não ficar para trás. Isso é importante não só pelos escândalos do vatileaks, que todo o mundo conhece, mas porque a Igreja precisa sempre de reformar-se”, explicou.

Francisco admitiu que é “indisciplinado” em relação à segurança, frisando que não sente “medo”, consciente de que “ninguém morre de véspera”.

“Eu não poderia vir ver este povo, que tem um grande coração, detrás de uma caixa de vidro”, explicou, valorizando a necessidade de “comunicação humana”.

Segundo o Papa, esta decisão não nasce da vontade de fazer figura de ‘enfant terrible’, mas do desejo de “tratar as pessoas como pessoas”.

O Papa agradeceu o acolhimento caloroso dos brasileiros e gracejou com a tradicional rivalidade entre Brasil e Argentina.

“Negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro”, brincou.

Em relação aos protestos dos jovens brasileiros, que se têm manifestado nas últimas semanas, Francisco destacou a importância de “oferecer-lhes lugares para se expressarem e ter cuidado para que não sejam manipulados”.

OC

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Agência ECCLESIA

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