Giorgio La Pira: Um profeta da Europa nos tempos conciliares

Quando o actual bispo emérito do Funchal, D. Teodoro de Faria, era estudante em Roma (Itália), na década de cinquenta do século passado, umas das figuras que “fascinava os jovens e provocava reacções a favor e contra na opinião pública” era o presidente da Câmara de Florença (Itália), Giorgio La Pira.

Quando o actual bispo emérito do Funchal, D. Teodoro de Faria, era estudante em Roma (Itália), na década de cinquenta do século passado, umas das figuras que “fascinava os jovens e provocava reacções a favor e contra na opinião pública” era o presidente da Câmara de Florença (Itália), Giorgio La Pira.

Segundo o bispo emérito do Funchal, Giorgio La Pira, antes do II Concílio do Vaticano, “é um combatente que fomenta e cria pontes entre crentes de outras religiões, em nome da sua fé”. Nascido em Janeiro de 1904, Giorgio La Pira foi um activista católico e político italiano que não se cansou de advertir para a “urgência de uma moralidade política, a degradação em que ele se encontrava tinha o seu fundamento na falta de formação dessa mesma classe à qual se confiou o bem comum”. (Cf. D. Teodoro de Faria, In: Jornal da Madeira, 07 de Julho de 2013, Pág. 9).

A experiência de Giorgio La Pira (1904-1977) como síndaco da cidade de Florença nos anos 50 do século passado merece uma “especial referência” nos dias actuais quando se fala da “intervenção política dos cristãos”. Mais do que a tentação de conceber e aplicar um “programa fechado”, La Pira considerou sempre “como fundamental partir das pessoas concretas e da salvaguarda da sua dignidade para a concretização das políticas necessárias”. (Cf. Guilherme d´Oliveira Martins, In: Voz da Verdade, 18 de Setembro de 2011, Pág 15)

Como presidente da referida câmara italiana, Giorgio La Pira dedicou-se de alma e corpo ao serviço dos mais pobres e desprezados da sociedade. “Imaginou e realizou, num tempo de difíceis condições económicas, um plano para a distribuição gratuita de leite nas escolas, assim como um outro plano de aluguer de casas para remediar a onda de desalojados”, escreveu D. Teodoro de Faria. Para muitos, La Pira é “considerado um profeta da Europa, cujo pensamento continua actual”. Para o italiano, a acção política realiza-se com “empenho competente”, dirigido para o bem comum, partindo do serviço e da tutela dos menos privilegiados.

“Ele redescobriu a alma profunda da política que é a procura do bem comum e a resposta à esperança da gente pobre”, lê-se no artigo do bispo emérito do Funchal. Quando se lê a constituição pastoral do II Concílio do Vaticano, «Gaudium et Spes», percebe-se que essa é a tónica fundamental ligada à compreensão dos sinais dos tempos, como ponto de encontro entre a criação divina e o mundo dos homens.

Dignidade e compromisso são duas palavras que têm de estar ligadas e que exigem correr riscos, “lançar o arado à terra, trabalhar e sujar as mãos”, sublinhou Guilherme d´Oliveira Martins. A dignidade coloca a pessoa humana no centro da política e da economia. O compromisso põe a experiência e o exemplo no cerne da acção cívica. Nesse sentido, o político italiano colocou no topo das prioridades o ser e o agir em prol da coesão e da justiça, do respeito mútuo e da paz.

Morreu em Florença, no convento de São Marcos (dos padres dominicanos), onde viveu muitos anos em grande pobreza e rezando pela paz, desarmamento, diálogo entre cristãos, judeus e muçulmanos. “Poucos leigos atingiram como ele um nível tão alto de vida espiritual e de «laicidade consagrada»”, finalizou o D. Teodoro de Faria.

LFS

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