Portugal: Especialistas económicos lamentam que crise política tenha agravado clima de «perplexidade, angústia e incerteza»

Demissões no Governo devem favorecer uma nova estratégia contra a crise que vá além da «mera reconquista de objetivos financeiros»

Lisboa, 09 jul 2013 (Ecclesia) – O Grupo Economia e Sociedade (GES) espera que a “turbulência política” criada pelas recentes demissões no Governo favoreça a definição de uma nova estratégia contra a crise que “vá além” da “mera reconquista de objetivos financeiros”.

Numa nota enviada à Agência ECCLESIA, a equipa de reflexão que conta entre outros com os economistas Carlos Farinha Rodrigues e Manuela Silva, sublinha que chegou a hora de promover com “ousadia um debate mais amplo e fundamentado, orientado para a procura de outros caminhos”.

As demissões de Vítor Gaspar, ministro das Finanças, e de Paulo Portas, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros levaram nos últimos dias o presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, a promover encontros com representantes dos vários partidos políticos com assento parlamentar.

Para os membros do GEP, as divisões no Governo de coligação PSD / CDS-PP, “cujo desfecho é ainda imprevisível” vieram agravar o clima de “perplexidade, angústia e incerteza” que hoje domina “a maioria” dos portugueses e que gera “um ambiente propício à depressão coletiva e à anomia social”.

No entanto, “é possível fazer das dificuldades um incentivo para alcançar mudanças mais robustas de requalificação do País”, realça o grupo anteriormente ligado à Comissão Nacional Justiça e Paz.

Os especialistas económicos reivindicam sobretudo uma “análise corajosa” às causas da crise e o desenvolvimento de soluções que tenham em conta “o bem-estar de todos os cidadãos”, potenciem o “acesso ao trabalho digno”, a “repartição justa da riqueza e do rendimento” e o acesso “a serviços de qualidade” em áreas como a educação e saúde.

Segundo aqueles responsáveis, “a situação que se vive em Portugal, não obstante as suas especificidades, não é dissociável da necessidade de que ocorram mudanças profundas no próprio modelo económico herdado da industrialização”.

Um modelo “assente na exploração intensiva de recursos naturais escassos, num consumo predador alimentado pelo marketing, na progressiva concentração da riqueza e má repartição do rendimento, e, mais recentemente, com o recurso a esquemas tóxicos de financeirização e aplicações improdutivas”, critica o GES.

Os promotores do blog “Areia dos Dias” não ignoram a necessidade de “fazer face ao elevado nível de endividamento externo” nem a obrigação de Portugal adotar “uma posição de “responsabilidade face aos compromissos assumidos junto dos credores”.

Mas todas as medidas que advenham do cumprimento desse papel devem ser tomadas “sem subserviência e com o devido protagonismo e empenhamento na realização das indispensáveis reformas institucionais, no plano comunitário e mundial”, concluem.

JCP

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