Responsável pelo Secretariado de Ação Pastoral do Patriarcado aponta a crise identitária dos cristãos como um dos grandes obstáculos
Lisboa, 28 jun 2013 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado de Ação Pastoral do Patriarcado de Lisboa diz que um dos principais desafios que se colocam à Igreja Católica na região é encontrar “uma nova maneira” de tornar Deus presente na sociedade.
“O mundo mudou rapidamente nos últimos anos e parece cada vez mais privilegiar uma cultura relativista onde a Palavra de Deus se perde e se dilui entre tantas palavras”, realça o padre Paulo Franco, num texto publicado na edição mais recente do Semanário ECCLESIA.
Para o sacerdote, “a sociedade contemporânea retirou Deus do seu horizonte”, substituindo-o por outros “valores, os quais se podem resumir no hedonismo, no materialismo, no consumismo, no laicismo, no secularismo, na indiferença (religiosa e social) e no relativismo”.
Por outro lado, a Igreja debate-se também com uma crise de identidade no seu próprio seio, entre os seus membros, expressa na “falta de fidelidade ao evangelho”, na “incoerência entre a fé proclamada e a fé vivida” e na ausência dum verdadeiro testemunho dos cristãos na sua forma de ser e de estar no mundo”.
“A perda da vocação missionária da Igreja fez com que ela perdesse o seu ardor evangelizador, alimentando um cristianismo sociológico e tradicional, onde a Igreja aparece como fornecedora de serviços, especialmente na área dos sacramentos e da assistência social”, lamenta o padre Paulo Franco.
Outro entrave à afirmação da mensagem cristã está na “ausência da Igreja nos novos areópagos e a insistência em linguagens que não encontram eco no homem contemporâneo”.
No meio desta conjuntura, sublinha o diretor do Secretariado de Ação Pastoral do Patriarcado de Lisboa, é preciso definir “caminhos para uma nova maneira de ser Igreja”, que permitam sobretudo “encontrar o apelo do sagrado dos homens e das mulheres de hoje”.
Apesar de todos os condicionalismos, é possível identificar na vida das pessoas “sinais evidentes de procura do sagrado, embora de forma difusa e descomprometida”.
A crise socioeconómica, que tem constituído um flagelo para as populações, tem demonstrado ao mesmo tempo “um empenhamento cada vez maior das pessoas em atividades de solidariedade e de cidadania”.
No que diz respeito à “dimensão espiritual do homem, que o racionalismo e o secularismo tinham abafado e nalguns casos eliminado da reflexão e dos modelos antropológicos típicos da modernidade”, ela é hoje também “cada vez mais valorizada”.
“Se este retorno ao sagrado está ainda longe de ser um reencontro com o Deus que se revela em Jesus Cristo, é já sinal duma humanidade que procura novos caminhos identitários onde Deus está presente como horizonte de sentido”, aponta o sacerdote.
Para aproveitar estes sinais positivos – salienta o padre Paulo Franco, não basta recorrer a uma “nova evangelização” – a Igreja Católica terá também de apostar na “formação sólida e exigente” de todos os cristãos de modo a que se tornem agentes de “transformação do mundo”, em “profunda comunhão” com Cristo.
No dia 6 de julho, o Patriarcado de Lisboa vai ser assumido por D. Manuel Clemente, numa cerimónia de tomada de posse na Sé.
A entrada solene do bispo de 64 anos na diocese lisboeta, que até agora era liderada por D. José Policarpo, está marcada para o dia seguinte às 16h00, numa celebração no Mosteiro dos Jerónimos.
JCP