Em Lisboa, no colóquio “Angola na Encruzilhada do Futuro” O Vigário-Geral da Diocese da Cabinda, o Pe. Raul Tati, esteve ontem em Lisboa para falar sobre a perspectiva da Igreja na questão de Cabinda, tema integrado no colóquio “Angola na Encruzilhada do Futuro” que decorreu a 26 e 27 de Maio em Lisboa. A chamada “questão de Cabinda” foi o último tema da Conferência “Angola na Encruzilhada do Futuro”, promovida pela Fundação Mário Soares e pela Open Society, organização não-governamental norte americana. Este foi também o painel que gerou debate mais aceso entre os angolanos presentes, que representavam vários partidos, organizações e sensibilidades políticas de Angola. Em representação da Igreja de Cabinda, o Pe. Raul Tati, falou sobre o conflito armado e o seu impacto na sociedade cabindense, esclarecendo a posição do clero face a esta questão. “Devemos advertir que todo o esforço da Igreja deve ser entendido na perspectiva de um protagonismo profético e jamais deverá ser confundido com o protagonismo político”, sublinhou o sacerdote. Para o Pe. Raul Tati, a Igreja “não disputa o poder nem se deixa atrelar por este”. O sacerdote lembrou que desde Abril de 2002, altura em que houve uma intensificação do conflito militar no território entre o exército angolano e os guerrilheiros da FLEC, o Bispo de Cabinda, D. Paulino Madeca, apelou “ao bom senso dos políticos e ao diálogo para que os ventos da paz chegassem também a Cabinda”. O governo angolano “entendeu optar pela lógica da força como solução da questão”, concluiu o Pe. Raul Tati. O sacerdote de Cabinda referiu ainda a existência de “campanhas de intoxicação psicológica” contra o clero cabindense nos meios de comunicação estatais. Deu o exemplo de programas de rádio onde “são insultados os presbíteros de Cabinda (…) e onde a própria Igreja vai recebendo alguns epítetos gratuitos, mas com contornos perigosos”. Paralelamente, referiu uma tentativa recente de selar uma antena da Rádio Ecclesia em Cabinda, que foi frustrada pela intervenção pessoal do Bispo de Cabinda. Segundo o sacerdote, D. Paulino Madeca tinha anteriormente notificado o governador local sobre a instalação da antena, não tendo obtido resposta por parte das autoridades. Após as comunicações de Agostinho Chicaia, presidente da associação cívica de Cabinda Mpalabanda, e do Pe. Raul Tati, seguiu-se um período de questões colocadas pelo público que gerou uma inflamada discussão. Alguns intervenientes defenderam a unidade territorial em Angola e criticaram a Igreja de Cabinda, que acusaram de ser a favor da independência e próxima das posições das FLEC. O Pe. Raul Tati respondeu às criticas reafirmando que o clero de Cabinda se baseia na Doutrina Social da Igreja e no pensamento cristão que resultou do Concílio Vaticano II. Na conclusão da sua intervenção afirmou que “a Igreja em Cabinda pretende ser apenas o espaço salvífico do operar de Deus no meio do seu povo”. Agostinho Chicaia defendeu como urgente uma consulta, sob a forma de referendo, à população de Cabinda.
