Uma vez mais, a sugestão semanal de cinema foca uma produção apenas disponível na internet e que não conhece (ainda?) senão a versão brasileira.
No original, “Il Papa nella Tempesta” (O Papa na tempestade) é uma minissérie dirigida pelo italiano Fabrizio Costa, feita para televisão e que pode ser encontrado em três partes no Youtube, sob o título em Português do Brasil, e deficientemente traduzido, “Paulo VI: Um Papa em meio à tempestade”.
Não se tratando de uma produção de excelência, que exponha e interrogue com a profundidade merecida o papel de Giovanni Maria Montini (1897-1978) ao longo dos quinze anos de ministério na liderança dos desígnios da Igreja, a minissérie de registo biográfico consegue no entanto focar os principais desafios de Paulo VI no seu pontificado, constituindo um razoável meio de conhecimento e contextualização do mesmo.
Eleito precisamente há 50 anos, a 21 de junho de 1963, é a Paulo VI que cabe consolidar a principal demanda do seu antecessor, João XXIII, reabrindo o Concílio Vaticano II (1962-1965) e assumindo a árdua tarefa da interpretação e implementação dos seus pressupostos. Um processo que exige uma delicada gestão de sensibilidades e expetativas dentro e fora da Igreja, ante reformas que iriam afetar praticamente todas as áreas da vida religiosa, social, política e económica mundial.
Desde a escolha do seu nome, Paulo, que assenta na missão de renovação da mensagem de Cristo, o papa peregrino define o seu pontificado na urgência de se aproximar do mundo de uma forma nunca antes feita: viaja pelos cinco continentes, enceta os primeiros encontros com os representantes das igrejas ortodoxas e será o primeiro pontífice a visitar Portugal, em maio de 1967, no cinquentenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima.
A importância do seu pontificado, as encíclicas que publicou e a forma como geriu o legado de João XXIII em tempos de enormes desafios, sob uma nova ordem mundial, tornam fundamental o conhecimento, aprofundamento e debate sobre a vida e pontificado de Paulo VI, não apenas para a compreensão histórica da Igreja, do entendimento do que é hoje, mas também para reflexão sobre os desafios e caminhos que se apresentam adiante.
Uma minissérie como a que aqui se sugere não esgota em si mesma essa reflexão, nem tão pouco, por se tratar de uma obra de ficção e não de um documentário, dispensa uma aferição de alguns dos episódios narrados que deixem clara a componente ficcional e real. Mas, mesmo com as suas deficiências de tradução e legendagem, pode fornecer um bom enquadramento e ponto de partida para o conhecimento do Papa Montini.
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