D. Manuel Clemente destaca capacidade de Francisco em ir ao «encontro das pessoas»
Lisboa, 19 jun 2013 (Ecclesia) – Os primeiros 100 dias de pontificado de Francisco, que se completam esta quinta-feira, mostraram um Papa capaz de “ir ao encontro das pessoas”, disse à ECCLESIA o novo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
“Ir onde as pessoas estão tem riscos, mas ele (Francisco) diz que prefere uma Igreja que arrisque do que uma Igreja doente”, destacou o prelado, que está a abordar a figura do sucessor de Bento XVI na rubrica semanal ‘O passado do presente’, transmitida às quintas-feiras na RTP2 (18h00).
Segundo D. Manuel Clemente, a “nova evangelização” foi a grande preocupação do atual Papa enquanto arcebispo de Buenos Aires, capital da Argentina, e será uma das suas “opções fundamentais” em Roma.
“Esta atenção para acolher quem aí vem e ir ao encontro de quem ainda não nos encontrou é fundamental”, declara.
Francisco tem tido gestos de “pároco” e insiste na necessidade de “acolhimento”, para que as comunidades católicas não sejam “repartições de serviços religiosos”.
“A sua atividade irá nesse sentido e, para o exercício do seu ministério petrino, isso é muito importante”, assinala D. Manuel Clemente.
O novo patriarca de Lisboa destaca, por exemplo, a forma como o Papa “entra e sai” das audiências públicas semanais na Praça de São Pedro: “Ele não passa, só, olha as pessoas”.
“Isto para nós é muito estimulante, porque nós também aprendemos com o primeiro dos pastores a sermos melhores”, precisa.
Andrea Tornielli, vaticanista e autor da biografia ‘Francisco, o Papa de todos nós’, destaca a personalidade simples e a proximidade com os fiéis pelas quais se pauta Jorge Mario Bergoglio, sublinhando que já se sentem mudanças.
“Parece-me que a grande mensagem é o de uma Igreja que quer superar a autorreferencialidade, que não está fechada sobre si própria, com problemas de um certo tipo de linguagem, de poder no seu interior, num grande apelo a abrir as portas e a sair, mesmo que haja o risco de alguns incidentes”, diz à Agência ECCLESIA.
O Papa, acrescenta, convida a “ir para as periferias para mostrar o rosto de uma Igreja que se inclina sobre esta humanidade que sofre”.
Henrique Pinto, teólogo e diretor executivo da CAIS, instituição particular de apoio aos sem-abrigo, destaca por sua vez a “aposta pelos pobres” e o estilo “mais solto, mais simples” de Francisco.
Para este responsável, as mudanças na Igreja Católica precisam sempre de tempo e exigem um “diálogo dentro de si”, particularmente no que diz respeito a temas que podem ser “fraturantes”.
“Creio que esteja no programa (do Papa) uma Igreja de charneira, de vanguarda, pioneira”, refere.
As principais intervenções do atual pontificado têm acontecido nas celebrações dominicais, audiências e nas missas matinais na capela da Casa de Santa Marta, onde decidiu residir sem se transferir para o palácio apostólico do Vaticano.
As breves homilias diários destas últimas celebrações têm deixado várias referências a temas que o Papa considera prioritários, como a identidade específica da Igreja – por várias vezes distinguida das ONG ou outras associações -, a necessidade de sair para as “periferias” geográficas e humanas, a preocupação pelos mais necessitados e pela justiça social, as críticas ao carreirismo e o combate contra o mal, personalizado nas várias referências ao diabo.
Os primeiros dias de pontificado vão estar em destaque no programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, este domingo, a partir das 06h00.
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