Arquiteto fala da «luta permanente» entre ser humano e a paisagem que o rodeia
Lisboa, 05 jun 2013 (Ecclesia) – O arquiteto português Gonçalo Ribeiro Telles alertou para a “destruição significativa e violenta” do sistema natural em Portugal, numa entrevista à Agência ECCLESIA, a propósito do Dia Mundial do Ambiente, que hoje se celebra.
O especialista, recentemente distinguido com prémio Sir Geoffrey Jellicoe, equivalente ao Nobel para a arquitetura paisagista, não gosta muito de utilizar o termo ambiente e prefere falar em “eco-humano”, onde se “cria a casa do homem”, através da criatividade deste.
A paisagem “ressente-se” quando é submetida à “ambição” e ao materialismo do ser humano.
Afirmando que a árvore é “um elemento fundamental” neste contexto, o arquiteto realça: “Destruíram-se muitas paisagens”.
“O problema é a harmonia entre o campo e a cidade e a maneira como, de facto, os dois elementos são fundamentais no processo do eco-humano”, acrescenta.
Com um percurso de vida ligado à área do “eco do homem”, Ribeiro Telles considera que a cidade “concilia tudo” o que é “próprio e necessário” para a vida do homem, mas deve colocar nesta conciliação “um objetivo estético”.
Para o arquiteto, há uma “luta permanente” e “desvios” do ser humano para com a paisagem que o rodeia, o que o leva a combater, através das suas intervenções, esses “aspetos especulativos”.
A “obra do homem” quando é realizada com os objetivos essenciais implica, necessariamente, “uma estética, funcionamento e criatividade”, disse.
O arquiteto paisagista sublinha que o jardim é obra do homem e tem “não apenas uma função ambiental e estética” mas uma “função sagrada”.
Quando visualiza as paisagens portuguesas, não “sente desânimo”, mas lamenta “que a ambição e erros materialistas do homem” possam destruir o espaço.
Gonçalo Ribeiro Telles apela a uma harmonia entre o “campo e a cidade” e acrescenta que muitas paisagens de Portugal ainda contêm essas características: “Vale do Douro, charnecas e montados, socalcos das beiras”.
O tema para as celebrações do Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano é ‘Pensar.Comer.Conservar’.
De acordo com a organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 1,3 mil milhões de toneladas de comida são desperdiçadas anualmente, número equivalente à quantidade de alimentos produzidos em toda a África subsariana; todos os dias mais de 20 mil crianças com menos de cinco anos morrem de fome.
A entrevista vai estar hoje em destaque no programa ECCLESIA na Antena 1 da rádio pública, a partir das 22h45, inserido numa série de depoimentos sobre o Dia Mundial do Ambiente que são transmitidos ao longo da semana.
LFS/OC