Cinema: INDIELISBOA e o prémio Árvore da Vida

Mais uma edição do Indielisboa cumprida, a décima e motivo de particular celebração, são já quatro as que contam com o Prémio Árvore da Vida no seu palmarés. Simbolo de uma vontade claramente expressa de estreitamento das relações entre a Igreja e o Cinema, através da Comissão Episcopal dos Bens Culturais e Comunicações Sociais, o prémio veio, pela primeira vez em 2010, reforçar, ainda mais, os laços mantidos durante décadas por entidades como a Cinedoc (Centro de Documentação Cinematográfica e Audiovisual) e a SIGNIS (Organização Católica Mundial para a Comunicação), concretizando a partir de então uma confiança e um incentivo muito específicos no/ao cinema português.

Depois de premiados ‘Pelas Sombras’ de Catarina Mourão (2010), ‘La Ilusión te Queda’ de Márcio Laranjeira e Francisco Lezama (2011), ‘Luz da Manhã’ de Cláudia Varejão (2012) e destacados com menções honrosas as curtas metragens ‘Nenhum Nome’ de Gonçalo Waddington (2010), ‘Os Milionários’ de Mário Gajo de Carvalho (2011) e ‘Mupepi Munatim’ de Pedro Peralta (2012), foi nesta recém-terminada edição deliberada a atribuição do Prémio Árvore da Vida a ‘Lacrau’ de João Vladimiro e uma menção honrosa a ‘Rhoma Acans’ de Leonor Teles.

Dois filmes distintos em género, estilo, narrativa e duração, ‘Lacrau’ é uma longa metragem que num estilo poético e contemplativo nos convida, pelo prisma de um jovem realizador, a uma profunda reflexão sobre uma existência rural para fora da qual as últimas décadas nos empurraram. Aqui se anuncia como desejo de busca, reencontro, combinando nostalgia, busca identitária, peregrinação interior e notável frescura. Um caminho de escuta do silêncio e de íntima relação com a natureza, as esparsas gentes e os animais, os elementos terra, ar, fogo e água, em que o indizível se desvela em sequências que são genuína oração.

Se dúvidas houvesse sobre a essência espiritual de ‘Lacrau’, um dos principais fundamentos da escolha do júri, e a importância que João Vladimiro lhe atribui, teriam sido dissipadas pelas palavras de agradecimento do realizador ao receber o Prémio Árvore da Vida – “Estamos muito preocupados com o dinheiro em geral, e ‘espiritual’ é uma palavra interessante. Gosto”.

Já ‘Rhoma Acans’, uma curta metragem realizada pela ainda mais jovem Leonor Teles, percorre um outro caminho de busca e reencontro identitário: prestando tributo às mulheres e homens da sua família de origem cigana capazes de recusar o cumprimento de regras/dogmas étnicos quando estes impedissem a liberdade de escolha própria no amor, sem no entanto recusar ou romper as suas raízes.

O vigor, a amplitude e a profundidade revelada pelo cinema português, particularmente na geração mais nova e tão evidentemente revelados em mais uma edição do Indielisboa, são claríssimos sinais da qualidade e 

vitalidade dos nossos criadores. Numa época em que enfrentam o desafio da fragilidade dos incentivos do estado, sem os quais grandes produções se tornam praticamente impossíveis, o seu ímpeto, génio, coragem e criatividade leva-os a procurar novos caminhos e formatos, porventura menos megalómanos e mais próximos de uma sustentabilidade cinematográfica que a todos nos aproxima: criadores e público.

Merecem os criadores portugueses a nossa atenção e incentivo e merecemos nós, como público exigente que somos, o espanto que, para lá das grandes salas, dos grandes meios de produção e dos grandes investidores, o cinema nacional nos pode provocar.

A presença da Igreja no Indielisboa é uma realidade, e uma amizade, com quatro anos de existência. É já tempo de anunciar, ampliar e agilizar a presença de bom cinema português dentro da Igreja.

Margarida Ataíde

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