Um dia conciliar

A meu juízo, continua a faltar uma verdadeira pastoral da comunicação presente em toda a pastoral e não como algo à parte. Continuamos a carecer de coordenação que – sem afectar a variedade e a riqueza necessárias e legítimas – evite a dispersão, a inútil repetição e desperdício de meios.

Aproxima-se a celebração de mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais.

Chamo-lhe, em título, “dia conciliar” porque nenhum outro, dos muitos que se assinalam, nasceu de um decreto do Vaticano II.

Manda, de facto, o Inter Mirifica (18): “…para que o multíplice apostolado da Igreja sobre os meios de comunicação social mais eficazmente se engrandeça, comemore-se em todas as dioceses, a juízo dos bispos, um dia, no decorrer do ano, no qual os fiéis sejam instruídos acerca das suas obrigações nesta matéria, sejam convidados a rezar por esta causa e a dar esmolas para este fim, as quais serão cuidadosamente aplicadas, conforme as necessidades do orbe católico, no sustento e incremento dos institutos e iniciativas promovidas pela Igreja”.

Anote-se que ao imperativo da comemoração, os padres conciliares juntaram os seus objectivos: reflexão sobre a responsabilidade de cada fiel, oração e ajuda económica ao sustento e incremento.

Parece- me não ser despropositado propor um sério exame de consciência nesta matéria. E temo que possamos descobrir quão longe anda da nossa prática  pessoal e eclesial a nossa boa teoria sobre os media, os seus recursos e consequências antropológicas e o seu potencial evangelizador.

Não significa isto que esqueça o muito que, também entre nós, se tem feito. Nomeadamente ao nível da atenção à formação profissional e progresso tecnológico; assim como ao nível da compreensão da linguagem e dos ritmos da atual cultura digital… Mas, a meu juízo, continua a faltar uma verdadeira pastoral da comunicação presente em toda a pastoral e não como algo à parte. Continuamos a carecer de coordenação que — sem afectar a variedade e a riqueza necessárias e legítimas —  evite a dispersão, a inútil repetição e desperdício de meios. A não ser assim, a comunicação da Igreja continuará a sofrer da desproporção entre os meios e os resultados.

Também a este perigo aludia, já há 50 anos, o Inter Mirifica quando ( n. 21) sublinhava: “um eficaz apostolado para toda a Nação está a exigir a unidade de intenções e de forças”. Consequentemente, o Concílio  ordenou a criação de Secretariados Nacionais para tal assunto,”amparados por todos os recursos”.

Não me vou alongar nesta matéria, apesar de tal ser justificado pela evolução das exigências e responsabilidades que o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais hoje assume. Mas não me inibo de citar Bento XVI, na Mensagem para o Dia Mundial que vamos celebrar: “Os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão crentes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação”.

Precisam. Vamos a jogo?

Podemos sair lesionados; mas pior seria perder por falta de comparência!..

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