II Concílio do Vaticano: Aulas de história no autocarro

Um dos bispos portugueses presentes no II Concílio do Vaticano foi D. Júlio Tavares Rebimbas, falecido em 2010, que – num texto escrito para a agência ECCLESIA – recordou alguns episódios com alguma dose de humor.

Para além dos trabalhos nas sessões conciliares, os participantes no II Concílio do Vaticano – assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII – também tinham momentos mais lúdicos.

Um dos bispos portugueses presentes no II Concílio do Vaticano foi D. Júlio Tavares Rebimbas, falecido em 2010, que – num texto escrito para a agência ECCLESIA – recordou alguns episódios com alguma dose de humor.

No seu texto relata uma “peripécia” ocorrida num autocarro entre Roma e Florença por ocasião do centenário de nascimento de Dante Alighieri (Florença, 1 de junho de 1265- Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321).

Com a presença de várias centenas de padres conciliares na cidade de Florença, D. Agostinho de Moura, na altura bispo de Portalegre-Castelo Branco, no trajecto entre as duas cidades italianas resolve dar uma aula de história.

“Falava, como de costume, muito e alto. Sabia muito de História e meteu-se a contar a história dos Papas. Tudo bem. Acompanhavam-nos universitários da Universidade de Florença. Ia na contagem dos Papas Pios, precisamente no segundo. Eis senão quando, um dos bispos gregos, ortodoxos, fartou-se do barulho da contagem e desata: Irra!… diz o grego. Eles são doze e você ainda vai no segundo!”, escreveu D. Júlio Tavares Rebimbas e acrescenta: “Uma gargalhada geral no autocarro. Bispos e alunos universitários”.

A vida é “um segredo e um mistério” e o II Concílio do Vaticano foi para o prelado português, natural da Diocese de Aveiro, “uma riqueza de dons gratuitos e também um mistério”. “Podia contar muitas coisas mas é melhor ficarem guardadas na alma”, sublinhou no seu comentário.

A aprendizagem era frequente nas “conversas particulares”, mas a boa disposição também reinava. Um dos padres conciliares era um bispo australiano que, por sinal era “muito alto, logo lhe puseram o nome de «altíssimo»”. “Uma vez dei com ele a tirar uma prova para uma batina, mas, como era muito alto, as freiras andavam com um escadote para lhe chegar à altura!!!”, contou. “Os bispos também se riam e é bom”, completou.

D. Júlio Tavares Rebimbas foi um dos bispos portugueses que participou no II Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965). Aos 43 anos, em 27 de Setembro de 1965, foi eleito por Paulo VI como bispo do Algarve e, ainda antes da ordenação, tomou parte na última sessão do Concílio.

Este acontecimento marcou-o “profundamente”. A convivência com o Papa Paulo VI, os outros bispos e o Espírito Santo, nas sessões diárias daqueles últimos meses, “a densidade e uma pressa de aprovar constituições, decretos e declarações fizeram-me participar nos votos e aprovações da maior parte dos documentos conciliares”.

Certamente que o “Espírito Santo não estava à espera de mim para aprovação da maior parte dos documentos conciliares”. O caso é que, indo só no fim, na última hora, “votei quase todos, evangelicamente, como os que tinham ido na primeira hora”, escreveu.

D. Júlio Tavares Rebimbas, antigo bispo do Algarve, auxiliar do Patriarca de Lisboa, primeiro prelado de Viana do Castelo e arcebispo-bispo do Porto, faleceu a 6 de Dezembro de 2010, com 88 anos.

LFS

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Agência ECCLESIA

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