Solidariedade: Companheiros de Emaús dão vida nova a pessoas e objetos

Instituição não confessional inspira-se no movimento fundado pelo padre francês Abbé Pierre

Lisboa, 02 abr 2013 (Ecclesia) – Desde 1985 que a comunidade dos Companheiros de Emaús instalada em Caneças, próximo de Lisboa, dá vida nova a pessoas marginalizadas e a objetos dados como perdidos.

“Enquanto restauramos as peças estamos também a recuperar-nos, e esse é um trabalho muito delicado e cansativo”, afirmou o senhor António ao programa ‘70X7’ emitido na RTP-2 no domingo de Páscoa, dia em que a Igreja assinala a ressurreição de Cristo.

As pessoas que chegam à comunidade “são como lixo chutado pela sociedade porque são alcoólicas, drogadas, portam-se mal ou vivem na rua”, aponta o responsável que, como todos os “companheiros”, só quer ser conhecido pelo nome próprio.

A instituição, que recusa subsídios, foi buscar a inspiração ao Movimento de Emaús, fundado em França no ano de 1949 pelo padre Henri Grouès, mais conhecido por Abbé Pierre (1912-2007).

[[v,d,3868,]]Nem idade nem proveniência: nada é perguntado a quem pela primeira vez entra na quinta à procura de acolhimento e que, em troca, é convidado a colaborar na recolha e restauro de objetos rejeitados, na esperança de se tornar “uma pessoa nova”.

“Emaús não é um movimento confessional. Abbé Pierre disse que era uma escola de consciência e de ação cívica”, recorda António, homem de “várias estradas” que na comunidade experimentou vivências “muito pesadas”, mas também “muito bonitas”.

Um espaço com mobiliário, relógios, espelhos e outros artigos recuperados pelos Companheiros contraria a convicção de que “quem vive na rua já não presta nem serve para nada”, assinala por seu lado o senhor Humberto.

Algumas das peças estão expostas no “Pavilhão Social”, onde é possível equipar uma casa com “muito pouco dinheiro”, e até sem nenhum, se os objetos forem trocados por voluntariado na comunidade, sublinha.

As empresas também recorrem aos serviços da instituição, que fornece sofás, cadeiras, loiças, guarda-vestidos e candeeiros de um hotel rural da região de Mafra.

A opção justifica-se pela preocupação com a ecologia, uma das prioridades do diretor da unidade, e também pelo facto de as peças se adequarem “perfeitamente” às necessidades.

“O mais importante” do ponto de vista empresarial é ser possível fazer “investimentos racionais” e, simultaneamente, apoiar “pessoas carenciadas” que “voltaram a ser produtivas”, destacou Miguel Andrade, que como Tânia Martins, proprietária de um restaurante em Lisboa, são alguns dos clientes.

A comunidade dispõe igualmente de louça e roupa, além de livros e revistas, procurados tanto por crianças à procura de obras infantis como por colecionadores, investigadores e produtoras de televisão, que alugam ou compram prateleiras de livros para cenários de novelas.

Igualmente ligados à comunidade situada no Concelho de Odivelas estão Maria da Fé, “companheira” desde os primeiros anos, e o senhor Pereira, que diz das peças o que poderia dizer das pessoas: “Entram mortas e saem vivas”.

De acordo com o relato bíblico do Evangelho segundo São Lucas, Emaús, de localização atualmente incerta, foi o local onde Jesus se revelou a dois discípulos no dia em que ressuscitou, após ter feito com eles parte do caminho que ligava a povoação a Jerusalém.

70X7 / RJM

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