Homilia do bispo de Aveiro na Vigília Pascal

 “Jesus Cristo, nossa Páscoa”

1.Na manhã de domingo, o primeiro dia da semana, algumas mulheres visitaram o túmulo de Jesus. Tinham sido testemunhas da morte de Jesus e vinham agora ao túmulo para envolverem de saudade e de perfume, à boa maneira dos judeus, a sepultura de Jesus. O túmulo estava aberto e vazio: o corpo de Jesus já não estava ali.

 Elas não podem naquele momento imaginar a dimensão e o alcance deste acontecimento insólito e inesperado. Compreenderão mais tarde, juntamente com os apóstolos, agora ainda dominados pelo medo e presos algures em Jerusalém, a realidade, o sentido e o significado da ressurreição de Jesus.

Na ressurreição de Cristo reside a raiz da nossa fé. Como diz S. Paulo: “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé” (1 Cor 15, 14), toda a realidade cristã se desmorona ou se torna um sonho, sonho feliz, mas apenas sonho.

E é ainda o mesmo apóstolo que nos vai fazer compreender que a ressurreição do Senhor não é apenas um acontecimento inscrito na história, a história do povo de Israel, liberto da opressão do Egipto, como aqui ouvimos, e na história da de toda a Humanidade. Este acontecimento ultrapassa a história. É um acontecimento que nos concerne, que vem inscrever-se em nós.

 2. O apóstolo Paulo, que perseguia os discípulos de Jesus, porque os julgava perigosos e desestabilizadores da ordem social, vai ser o grande teólogo da ressurreição. Ele mesmo se sentiu tocado por Jesus, vivo e ressuscitado, no caminho de Damasco, e vai compreender que é chamado a uma vida nova.

É ainda Paulo, o mesmo apóstolo, na sua Carta aos Romanos, que abre aos primeiros baptizados esta impressionante transformação que nele operou o Senhor Jesus Cristo: “Nós fomos crucificados com Cristo. Nós estamos mortos com Ele. Com Ele fomos sepultados. Mas com ele somos chamados a entrar numa vida nova, a vida dos ressuscitados” (Rom 6, 4-6).

Jesus assume, com a sua morte e ressurreição, sobre Ele a nossa Humanidade e dá-nos uma vida nova, a vida de filhos de Deus, livres e felizes.

3.A Igreja não cessa de nascer e de renascer desta fonte viva que é o acontecimento pascal, este acontecimento que vem buscular as categorias humanas. Aqui se revela que todas as injustiças humanas e violências do mundo não impedem a vida de Deus de se desdobrar em nós e que as maiores feridas humanas e sociais nos abrem também a esta força da ressurreição, que dá alegria, liberdade e paz.

Vós, irmãos que ides ser baptizados nesta Vigília pascal, Duarte e Eurico, sois testemunhas felizes deste acontecimento. Nós vos acolhemos não somente como novos membros da nossa comunidade, mas como sinais de Deus que nos ensinam a acolher esta vida nova.

Desta Igreja Catedral, igreja mãe da Diocese, saúdo todos os catecúmenos e todas as crianças, hoje baptizados em toda a Diocese e saúdo desde já as crianças das nossas catequeses que, depois de três anos de caminhada catequética, vão ser baptizadas proximamente. E são muitas dezenas! Demos graças a Deus!

Quero saudar, igualmente nestes tempos difíceis onde parece que as leis aprisionaram o direito a nascer e que se asfixiou no coração humano a alegria do acolhimento da vida, todas as famílias que acolhem no seu regaço ou aguardam com alegria o nascimento dos seus filhos. Aconchegai-os com o carinho e ternura de pais e de mães. Eles são dons de Deus. Eles são bênção do vosso amor fecundo e generoso. Que Deus os abençoe!

3.Ao percebermos os efeitos reais da Páscoa de Cristo em nós, nós entramos no mistério de Deus pelo qual viveremos e desta Aliança nova e eterna que faz renascer pela esperança no mundo.

“Não tenhais medo! Não procureis entre os mortos Aquele que está vivo! Ele ressuscitou” ( Luc 24, 5-6). A Páscoa é Cristo Vivo. A Páscoa é obra de Deus que não mais termina e que não mais acaba de trabalhar a nossa humanidade.

Esta não é a hora de olhar para o sepulcro vazio. É a hora de partilhar a alegria que Deus nos dá, fazendo de nós um povo de baptizados, um povo de crentes, um povo de irmãos e de irmãs que se encorajam a viver de Cristo ressuscitado, o Senhor.

É este o sentido e o horizonte da nossa Missão Jubilar: fazer de nós um povo pascal, feliz e decidido a anunciar as bem-aventuranças do Reino.

Temos na nossa mão uma grande missão, que nasce desta força da Páscoa, que dá sabor à vida!

Sabemos que a nossa casa é o mundo, que a nossa arma é o amor redentor de Cristo e que o nosso tempo é agora!

“Vive esta hora!” como dia que o Senhor fez, como hora jubilar que vos chamo a envolver da alegria da Páscoa e que vos envio a anunciar de casa em casa, de rua em rua, de coração em coração.

Uma santa e feliz Páscoa! Aleluia! Aleluia!

Sé de Aveiro, 30 de março de 2013

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

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