Vive esta hora!

Homilia da Missa Crismal de D. António Francisco Santos

“Vive esta hora! «para que esteja em vós a minha alegria e a vossa alegria seja perfeita» (Jo, 15, 11)”

Eis-nos reunidos, irmãos e irmãs, nesta manhã de Quinta-feira Santa, em Ano da Fé, como discípulos do Senhor Jesus, que “sabendo que tinha chegado a hora de passar deste mundo para Seu Pai, amando os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13, 1).

Vivemos esta hora cheia de encanto e de esperança pela alegria que irrompe agora na Igreja, em comunhão com o novo Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, o Papa Francisco.

A Igreja vive da bondade de Deus, da acção de Cristo e da força do Espírito Santo Consolador, no meio de sentidas alegrias mas também por entre dramas humanos, dolorosas injustiças sociais e incertezas face ao futuro da humanidade.

A Igreja existe para anunciar a boa nova do evangelho e para nos incentivar à bondade e à esperança. E nós, povo de ungidos pelo baptismo, pelo crisma e pela ordenação queremos assumir este longo e belo caminhar da fé da Igreja.

O que nos ensina Jesus, nesta hora? Ensina-nos a viver do essencial. Ensina-nos a viver do seu amor que nos faz verdadeiros, felizes e livres.

O mistério da paixão, da morte e da ressurreição de Jesus é lugar do encontro definitivo e redentor da Humanidade com Deus e apelo a uma vida liberta do mal, do medo e do pecado.

Sem demorar mais, demos na nossa vida tempo ao essencial. Demos tempo a Deus, aos outros e a nós mesmos. Assim entraremos na alegria da Páscoa.

É esta procura do essencial que encontra resposta nos sacramentos da Igreja. Compreendemos, assim, que tenham lugar nesta Missa Crismal a bênção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e a consagração do óleo do crisma.

Pela unção do óleo dos catecúmenos, os que vão ser baptizados recebem de Deus a força do “combate”da fé e do permanente esforço de conversão. Estes mesmos receberão pela unção do crisma a configuração com Cristo pelo baptismo e mais tarde, serão ungidos pelo mesmo óleo no sacramento da confirmação, sinal indelével que dá marca divina à existência humana e nos confere plena inserção na vida da comunidade eclesial.

Assim, também, os presbíteros e os bispos serão ungidos pelo óleo do crisma para servirem o povo de Deus, no ministério ordenado.

E os idosos e doentes recebem pela unção do óleo dos enfermos a força e a coragem para viverem em comunhão com a cruz de Cristo, associando a sua oblação à oferta que Jesus fez da sua própria vida.

Damos graças a Deus por esta vitalidade do evangelho e por esta missão da Igreja que continua a abrir a todos as «portas da vida e da fé» (Act. 14, 27).

Momento de renovação para a Igreja e aurora de alento para o mundo

Foi para celebrar a alegria da fé e nos implicar neste dinamismo missionário da Igreja que convoquei a Diocese para a Missão Jubilar. O objectivo é o de nos chamar a professar a fé com alegria e vincular a nossa vida cristã, de que a Eucaristia é o centro, à missão da Igreja no mundo, como insistentemente nos diz o Concílio.

Urge dar testemunho de Cristo ressuscitado em todos os domínios da existência humana, como campo natural da missão dos cristãos. Sentimos já abundantes frutos deste ano de graça e de bênção da parte de Deus, que a Missão Jubilar nos traz. Tocamos de perto muitas alegrias vividas pelas pessoas, pelas famílias, pelos movimentos apostólicos e pelas comunidades e saboreadas em espaços novos de diálogo com o mundo, onde se espelha o rosto missionário da Igreja.

Não podemos ser cristãos sem Igreja, sem esta Igreja conciliar, renovada e missionária. Percebemos, igualmente, que não podemos ser cristãos sozinhos e fora do mundo que Deus ama.

É esta a missão da Igreja, a que Deus nos chama e envia. Não deixemos encerrar a graça que recebemos: partilhemo-la. Não enterremos os talentos que nos foram confiados: façamo-los frutificar. Não permitamos que o medo ou o desânimo magoem a nossa vida: reavivemos a alegria.

Testemunho-vos a alegria diariamente encontrada no compromisso pastoral de tantos cristãos e no dinamismo de novos servidores do evangelho, encorajados pela audácia apostólica e pela ousadia da caridade, atentos aos pobres e próximos daqueles que a nossa sociedade esquece, ignora ou rejeita.

Alegro-me com tantas famílias que assumem a beleza do seu amor fecundo, da sua fidelidade conjugal feliz e do seu compromisso apostólico, envolvendo todos os seus membros e alargado a toda a comunidade.

A presença nesta celebração de muitos crismados ao longo do ano tem particular significado e renovado sentido. Ungidos pelo óleo do crisma e portadores dos dons do Espírito Santo eles são dom de Deus para todos nós.

Partilho com os diáconos permanentes a alegria deste tempo jubilar aumentada pela celebração dos 25 anos da ordenação do primeiro grupo e pela caminhada dos que agora se preparam para a ordenação.

Vivem este dia com particular sentido de comunhão e renovado horizonte de missão as comunidades religiosas e todos os consagrados da nossa Diocese. Agradeço-vos o dom da vossa vida consagrada e a beleza dos vossos diferentes carismas.

Alegria da vocação e coragem para a missão

Quero dirigir-me a vós, queridos sacerdotes, neste dia que nos é particularmente dedicado.

Sinto que a santidade de bispos e sacerdotes que nos precederam, ao longo destes 74 anos de vida como diocese, nos fortalece no ministério enos estimula na responsabilidade. Penso com mais afecto naqueles de entre vós que estão fragilizados pela idade, pela doença ou por provações dolorosas. Lembro os dois sacerdotes do nosso presbitério que estão em missão pastoral fora da Diocese: Padre Rui Barnabé e Padre José Manuel Fernandes.

Recordo na gratidão e na oração o Padre Miguel Tomás Ferreira, que partiu ao encontro de Deus.

Louvo o Senhor nosso Deus pelo ministério presbiteral e pela fidelidade sacerdotal dos nossos irmãos, Padres Manuel Pinho Ferreira e José Sardo Fidalgo, na celebração dos 50 anos da sua ordenação, e do Padre Silvério Malta, sacerdote comboniano, ordenado presbítero, em Calvão, sua terra natal, há 25 anos.

Acolhamos com alegria fraterna a Comunidade dos Sacerdotes Combonianos, a iniciar a sua presença e missão na nossa Diocese.

Preparemo-nospara a celebração da ordenação de diácono do Hélder, do Leonel e do Vítor, no próximo dia 7 de Abril, e para a instituição do Pedro Barros no ministério de Acólito e do Gustavo no ministério de Leitor, a 21 desse mês. Saudemos com alegria os seminaristas e pré-seminaristas que nos incentivam a ver mais longe no tempo e na esperança de novas vocações.

Um ministério de bem-aventurança

É à luz das bem-aventuranças e sob o seu paradigma, que me quero dirigir a vós, caros sacerdotes.

As bem-aventuranças são inesgotáveis. A cada leitura sentimos vontade de saber mais e de as viver melhor. Elas estão habitadas por uma mensagem divina que ilumina e faz feliz a vida humana, que é luz do mundo e sal da terra. Nelas encontramos horizonte de sentido para a vida, caminho para a missão e força contínua nas horas mais duras e nos momentos mais difíceis. Elas constituem um dos mais belos textos da humanidade.

É necessário reinventar as bem-aventuranças e aplicá-las, também, a nós, caríssimos sacerdotes:

.Bem-aventurados seremos quando recebermos a vida como um dom e acolhermoso ministério como uma graça divina a moldar este barro frágil de que todos somos feitos.

.Bem-aventurados porque caminhamos, desde a nossa ordenação, há mais ou menos anos, na verdade de coração e na limpidez da alma, despojados de ambições, mas possuídos pela imensidão dos sonhos de Deus.

.Bem-aventurados quando olharmos a vida como uma forma de hospitalidade e doação, que de nós faça irmãos e próximos de todos.

.Bem-aventurados sempre que dermos tempo à oração e lugar ao encanto pela missão que através de nós se realiza.

.Bem-aventurados porque seduzidos pela bondade e pela verdade que nos ensinam a trazer notícias de Deus aos pequeninos e aos simples como o devemos fazer, com novo vigor e nova linguagem, aos sábios e poderosos.

.Bem-aventurados ao ajoelharmos diante de Deus, porque o silêncio se torna o melhor diálogo, e ao servirmos a Humanidade como testemunhas da bondade e do perdão.

.Bem-aventurados porque nos sabemos discípulos de Cristo e nos sentimos decididos, com acrescentado entusiasmo neste tempo jubilar, a edificar esta Igreja que o Concílio trabalhou e que o Espírito do Senhor diariamente renova.

.Bem-aventurados quando no sofrimento e na dor nos unimos mais à cruz de Cristo e antevemos e antecipamos o mistério redentor da Páscoa.

Vamos fazer agora a renovação das nossas promessas sacerdotais. Saboreemos este momento com a alegria reencontrada do dia da nossa ordenação, com o entusiasmo renovado do nosso amor à causa de Jesus e com o ardor da nossa paixão pela missão da Igreja.

Uma prece confiante

Rezai, irmãos e irmãs, pelos nossos sacerdotes e por nós bispos. Perdoai as minhas fragilidades, compreendei os meus limites e alavancai o meu louvor a Deus e o meu serviço humilde a esta Igreja que muito amo. Fazei vossa, também, a minha gratidão pelo bem por todos vós realizado ao serviço desta querida Igreja de Aveiro.

A Maria, nossa Mãe, Senhora da Conceição e da Glória, como aqui a invocamos, pedimos a força da fé e a alegria da confiança para amar a Deus e servir os nossos irmãos.

Que Santa Joana, nossa Padroeira, nos proteja e ajude a viver uma Santa Páscoa!

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro
Sé de Aveiro, 28 de Março de 2013 

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