Portugal: Teóloga considera que mensagens iniciais do Papa Francisco convidaram Igreja a uma «purificação progressiva»

Isabel Varanda admite que durante este pontificado possa acontecer «um concílio ecuménico para clarificar e iluminar a identidade eclesial»

Lisboa, 20 mar 2013 (Ecclesia) – A teóloga Isabel Varanda diz que as primeiras mensagens do pontificado do Papa Francisco podem ser indicadoras de uma “reviravolta muito significativa” na Igreja Católica, em ordem à redescoberta da sua verdadeira “essência”.

Em declarações que vão ser publicadas esta quinta-feira, na nova edição do Semanário ECCLESIA, a professora da Universidade Católica Portuguesa refere que atualmente os católicos “são muitas vezes testemunhas de uma Igreja irreconhecível, dificilmente identificável com o Evangelho”.

Quando destacou a necessidade de converter o “poder” em “serviço”, durante a missa inaugural do seu pontificado, que teve lugar terça-feira no Vaticano, o Papa falou “também para dentro da Igreja, no sentido de uma purificação progressiva, de um recentramento naquilo que é essencial”, recorda a docente da Faculdade de Teologia de Braga.

Isabel Varanda acredita que o antigo arcebispo de Buenos Aires, através da sua “postura incarnada na realidade”, vai contribuir para uma renovação que já estava a ser perseguida desde os tempos em que o seu antecessor, Bento XVI, era cardeal.

“Num texto que escreveu em 1970, intitulado Fé e Futuro, Joseph Ratzinger falava da Igreja do futuro e dizia que ela deveria ser mais interiorizada, que era preciso uma Igreja que não suspirasse por um mandato político, e o Papa Francisco referiu claramente nas suas últimas intervenções que a Igreja de Jesus Cristo é uma Igreja de sedução, não de proselitismo”, realça.

A teóloga admite que, tendo em conta os problemas atuais da Igreja, “o Papa Francisco possa convocar em algum momento do seu pontificado, um concílio ecuménico – não um novo concílio vaticano – para clarificar e iluminar a identidade da Igreja de Jesus Cristo, que no tempo presente pode ser talvez considerada um pouco confusa, de certo modo promiscua”.

“Estamos a comemorar 50 anos do Concílio Vaticano II e as mudanças no mundo, no nosso modo de viver, são tão drásticas e levantam tantas questões inéditas que um concílio ecuménico permitiria reforçar as grandes intuições que o Vaticano II deu e por outro lado acertar o ritmo da Igreja com o passo do mundo”, advoga a professora da UCP.

No que diz respeito à influência que o Papa Francisco poderá ter em relação à sociedade, sobretudo junto dos governantes, a docente considera que “a Igreja Católica tem um papel decisivo na evangelização dos poderes civis, políticos, em geral” para que exerçam a sua função tendo em conta o “bem comum”.

“Há uma carência, um défice muito grande na educação integral das nossas elites culturais, politicas, governantes, que se reflete depois nas suas prestações ao serviço das pessoas”, conclui.

JCP

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