Imagem do caráter transitório do poder do Papa integra-se na «floresta de imagens mais fascinante que jamais se viu», diz especialista
Cidade do Vaticano, 12 mar 2013 (Ecclesia) – Os 115 cardeais que a partir de hoje se reúnem na Capela Sistina, no Vaticano, para eleger o sucessor de São Pedro, terão diante de si duas imagens que sublinham o caráter transitório do poder do Papa.
“Quando os cardeais eleitores entrarem na Capela Sistina passando pela Sala Régia o seu primeiro olhar deparar-se-á com o painel em fresco com a ‘Entrega das Chaves’ de Pietro Perugino. Uma em frente da outra, duas figuras monumentais: o Cristo, que confia ao Vigário as chaves do Reino, e Pedro de joelhos que as recebe”, descreve o diretor dos Museus do Vaticano no jornal ‘L’Osservatore Romano’.
Na parede atrás do altar, onde Miguel Angelo (1475-1564) pintou uma das suas obras mais conhecidas, o ‘Juízo Final’, que domina todo a capela, os prelados “verão um atlético Pedro sombrio e musculoso, restituir as chaves a Cristo Juiz”, assinalando que “o tempo terminou” e “a História já não existe”, assinala Antonio Paolucci.
“Quem olha para o ‘Juízo [Final]’ tem a impressão de que não existe uma parede, mas que o olhar se abre para um espaço infinito de ar frio e azul. Com efeito, quem entra na Sistina entra num enigma teológico-escritural, mas também na floresta de imagens mais fascinante que jamais se viu debaixo do céu”, refere o especialista no jornal do Vaticano.
A par da entrega e devolução das chaves, a Capela Sistina oferece aos cinco milhões de visitantes anuais, e desde hoje aos cardeais, outro princípio e outro fim: a evocação da criação do ser humano, no teto, também por Miguel Angelo, e o seu destino último no ‘Juízo Final’.
Paolucci considera que “o verdadeiro fulcro teológico” do ‘Juízo Final’, composição “que atrairá mais frequentemente os olhares dos cardeais eleitores”, está na “advertência terrível” que lhes é lançada, assim como aos cristãos, através do “turbilhão de anjos em voo com os instrumentos da Paixão: a coluna da flagelação, a cruz, a coroa de espinhos, a esponja do último suplício”.
“Para todos e para cada um serão estas as provas de testemunho no tribunal do Juízo. Seremos julgados porque Cristo morreu por nós. Pela nossa fidelidade à Cruz seremos salvos ou condenamos”, sublinha.
Esta é a 25ª vez que o Conclave decorre na Capela Sistina, que foi encerrada ao público e inspecionada para detetar equipamentos audiovisuais destinados a espiar os escrutínios.
As janelas foram escurecidas, sobre o pavimento original foi construída uma plataforma e introduziram-se duas salamandras: numa queimam-se os boletins de voto e notas escritas pelos prelados, enquanto que noutra é produzido o fumo negro ou branco que manifesta para o exterior o resultado dos sufrágios.
O beato João Paulo II (1920-2005) referiu-se ao ‘Juízo Final’ na constituição ‘Universi Dominici Gregis’, que regula a escolha do Papa: “Disponho que a eleição continue a desenrolar-se na Capela Sistina, onde tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus, diante do qual deverá cada um apresentar-se um dia para ser julgado”.
A Capela Sistina deve o seu nome a Sisto IV, Papa entre 1471 e 1484, que promoveu as obras de restauro da antiga Capela Magna a partir de 1477.
O Conclave, palavra com origem no latim ‘cum clavis’ (fechado à chave), pode ser definido como o lugar onde os cardeais se reúnem em clausura para eleição do Papa.
RJM/OC